Anos 80

A Década Perdida

Quando os roteiristas de Hollywood entraram em greve

Em meados dos anos oitenta, os roteiristas de cinema e televisão de Hollywood resolveram entrar em greve por melhores salários. Esse fato aparentemente corriqueiro foi decisivo para industria cinematográfica americana e influenciou negativamente quase tudo o que foi produzido em Hollywood na década seguinte.

Inicialmente a coisa toda foi vista como uma afronta pelos chefões dos maiores estúdios de cinema, e como as conseqüências da greve não foram imediatas, pelo menos não no cinema, os grandes chefões pensaram que poderiam vencer os grevistas pelo cansaço. Por isso não se preocuparam muito com a possibilidade de ficarem sem roteiros para filmar. Afinal, os grandes estúdios tem milhares de projetos e roteiros não filmados que são queimados todos os anos.

Imaginem o seguinte: que de um dia para o outro produções milionárias fossem interrompidas pela metade. Seriados e novelas, sem mais nem menos, ficassem sem novos capítulos. Imaginem então o que fazem os grandes estúdios? Simplesmente contrataram novos roteiristas, passando por cima das normas do sindicato da categoria, que receberam a incumbência de continuar o trabalho de seus colegas grevistas. Mas não demorou muito para o público perceber que havia alguma coisa errada com seus programas preferidos.

Por exemplo: na série A Gata e o Rato foi levado ao ar com um capítulo incompleto, sem o final. E para preencher o tempo que faltava colocaram Bruce Willis dublando uma música enquanto os outros artistas do elenco ficavam dançando e fazendo palhaçadas.

Já na série um Amor de Família, a protagonista, Peggy Bundy, ficou grávida por uma temporada inteira, e na temporada seguinte tudo foi resolvido como um sonho do marido.

Além disso, devido a greve, começaram os remakes de séries antigas como Jornada nas Estrelas e Missão Impossível, que voltaram ao ar com histórias que não haviam sido rodadas na época de seu cancelamento.

As novelas também foram diretamente atingidas com reviravoltas absurdas, houve até o caso inacreditável de um personagem que foi ressuscitado, depois de ter sido morto a tiros pelo vilão da história.

No cinema, a greve teve conseqüências mais sutis, mas nem por isso menos devastadoras. Sem novos roteiros para filmar os estúdios começaram a fazer projetos que estavam encalhados por anos na espera de alguém para filmá-los.

Bem, esses roteiros não tinham sido realizados por uma simples razão: não eram bons o suficiente, e o resultado disso foi uma queda violenta na qualidade do cinema norte-americano da metade da década de 80 em diante. Tente se lembrar de algum bom filme que você tenha visto nessa época. Com dificuldade vai conseguir encontrar mais que uns dois ou três, que são evidentemente a exceção à regra, e haverá uma grande chance desses filmes serem produções independentes, que por não terem vínculos sindicais não foram afetadas pela greve.

A greve foi resolvida na justiça com ganho de causa para os roteiristas, que conseguiram encarecer o valor de seus roteiros. Porém, aqueles roteiristas substitutos, contratados pelos estúdios, tiveram de ser reconhecids como tais pelo sindicato, ou seja , de certa forma o tiro saiu pela culatra, pois muitos grevistas não recuperaram seus empregos.

Porém o mais importante: a qualidade dos roteiros e dos filmes feitos a partir de então nunca mais foi a mesma.

Saulo Gomes

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