Anos 80

A Década Perdida

Rock Brasil - O inventário da tragédia # 2: O Selo Plug

O ano era 1987, o país sofria a pior crise econômica de sua história. O então presidente José Sarney tramava para permanecer mais um ano no cargo, institucionalizando a já conhecida política do "é dando que se recebe". Eram tempos de recessão e incerteza. Depois do fracassado Plano cruzado II— A missão— de novembro de 86, era vez do Plano Bresser. Caminhávamos a passos largos para hiperinflação. Resumindo não estava fácil para ninguém.

O que diga o emergente Rock Brasil, que não conseguiu passar incólume a este cenário de crise. Com a recessão o mercado consumidor se retraiu e as vendas de discos despencaram. Além disso depois de dois anos dominando as paradas o Rock Brasil dava sinais de desgaste. O RPM acabara. O Camisa de Vênus também.  Paralamas começara a olhar com bons olhos para o mercado exterior, e a Legião estava a beira de um colapso. A maioria das bandas da primeira leva do rock nacional tiveram que repensar suas carreiras, e aqueles que se aventuram a enfrentar a crise acabaram quebrando a cara.

Foi o ano em que se separou o joio do trigo no rock nacional, que ficou claro quais bandas permaneceriam no primeiro time da MPB: Paralamas, Titãs, Legião Urbana. E quais cairiam para segunda divisão: Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Barão Vermelho, Ira! e o resto. A verdade, que desse segundo grupo poucas bandas chegariam aos anos 90, mas isso já outra história.

Pois não é que em meio ao caos econômico, dois empresários cariocas resolveram investir em uma nova safra de bandas nacionais. Criando o primeiro selo fonográfico dedicado, exclusivamente, ao rock nacional a pertencer a uma grande gravadora? Estamos falando evidentemente do malfadado Selo Plug.

Olhando hoje em dia, qualquer um pode perceber que aquele não era o melhor momento para uma empreitada desse tipo. Mas perspicácia e ponderação, nunca foram características comuns entre aqueles que trabalham no meio fonográfico.

Tudo começou com a coletânea Rock Grande do Sul, lançada no verão de 87, que reunia as bandas Engenheiros do Hawai, DeFalla, Garotos da Rua, Replicantes e TNT. Depois do Rio, São Paulo e Brasília, o Rio Grande do Sul era a bola da vez. A RCA/Ariola entusiasmada com o sucesso do álbum bancou a idéia de um selo especializado em rock, idealizado pelos empresários Tadeu Valério e Miguel Plopschi, possivelmente achando que encontraria um novo RPM no meio desse balaio de gatos.

No entanto o Selo Plug estava destinado ao fracasso, com vendas medíocres e o sucesso passageiro de alguns poucos abnegados(Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós) o selo foi mantido na ativa até o final de 89. Quando a BMG comprou a RCA/Ariola e acabou com a palhaçada. Num primeiro momento o selo foi abandonado, ficando apenas Engenheiros e Nenhum de Nós sob contrato. Depois, já nos anos 90, o projeto foi reformulado e vem se mantendo, até hoje, na vanguarda em matéria de lançamentos inócuos e medíocres, que resultam invariavelmente em fracassos monumentais.

Além das bandas gaúchas TNT, Defalla, Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, Replicantes, Garotos da Rua, o selo gravou vários outros artistas. A maioria não deu nem para o começo e foi dispensada logo após o primeiro LP. Sintam o drama de algumas das primeiras bandas que gravaram pelo selo:

Hojerizah – Banda de rock carioca,  gravou apenas dois discos para o selo. Sendo que o segundo só o crítico musical Arthur Dapieve ouviu falar. Chegou a ter um sucesso no meio underground roqueiro— o que significa menos que nada— com a música "Pros que estão em Casa". O vocalista Tony Platão é a pessoa mais indicada para fazer o papel da cantora Cassia Eller no cinema.

Picassos Falsos – Também conseguiu o feito de gravar dois discos. Aquele "Oh" de espanto. É realmente espantoso, pois não se conhece ninguém que tenha ouvido nenhum dos dois discos. O segundo "Supercarioca" foi aclamado pela crítica musical da época, o que também não significava grande coisa. Afinal eram as mesmas pessoas que colocavam bandas como Fellini, Akira S, Maria Angêlica e outros enganadores da mesma estirpe, nas listas de melhores do ano...

Violeta de Outono – Banda paulista reconhecida por seus shows ao vivo e por seu som progressivo(argh!!!). Gravaram um disco medíocre pelo selo plug e voltaram para o circuito "underground" de onde nunca deviam ter saído.

Hanói-Hanói – Banda liderada pelo baixista/vocalista e letrista Arnaldo Brandão, que deve ter estudado na mesma escola para chatos que Lobão; e se formado com louvor! Parceiro de Cazuza— precisa dizer mais alguma coisa?— dono de uma das vozes mais irritantes do rock nacional, ganhou notoriedade por ter a música "Totalmente Demais" gravada por Caetano Veloso. Pra quem hoje em dia grava Peninha isso deve fazer algum sentido.

Black Future – Quem? Onde? Como? Dupla de impostores cariocas dados a espetáculos performáticos e outras coisas cacetes metidas a besta. Chegaram a gravar um disco, alguém sabia disso?

Obina Shock – O Cidade Negra dos anos 80... quer dizer, tão ruim quanto. A banda  estava a frente do  seu tempo, pois nos anos 80 a reggae music ainda não tinha muita audiência no país. Só na década seguinte o rítmo se tornaria a trilha sonora preferida de surfistas, maconheiros e outros desqualificados.

João Penca e Seus Miquinhos Amestrados – Ah! com esse nome só poderia ser uma banda carioca... Já eram veteranos quando foram tirados do ostracismo para gravar um disco pelo selo Plug. O grupo havia gravado um disco antológico, com o sucesso "Telma eu não sou Gay", para gravadora Polygrana. Mas como acontece com toda banda engraçadinha, eles são divertidos no início, depois já não tem a mesma graça, e quando ninguém atura a mesma piada, são substituídos pela próxima bandinha engraçadinha da estação. No caso: Os Inimigos do Rei.

Os Aliados - O selo Plug também era chegado numa picaretagem, vocês se lembram dos Os Melhores, do sucesso "Suzana". Pois é... tentaram reviver a banda com outro nome. Não deu certo. Mas não deu certo mesmo. Foi lançamentos errôneos como esse que transformaram o selo numa verdadeira máquina de queimar dinheiro, devidamente fechada algum tempo depois.

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