Anos 80

A Década Perdida

Rock in Rio I - 1985: O começo de tudo

Janeiro de 1985. O Brasil começava a ser invadido, com anos e mais anos de atraso, por um ritmo estranho chamado rock. No resto do mundo gênero agonizava por culpa da malfadada década de 80. Mesmo assim um empresário brasileiro maluco (quem acredita em capitalismo por aqui tem de ter um parafuso a menos) chamado Roberto Medina resolveu realizar o maior festival de rock do mundo. Nascia assim o Rock in Rio.

Medina não satisfeito com a idéia de juntar grandes nomes (ou não) do pop-rock mundial resolveu também construir um local inteiramente novo para ser a sede do festival. A Cidade do Rock surgiu em um terreno de 250 mil m2, na Barra da Tijuca. O palco foi considerado o maior do mundo na época com 5 mil metros quadrados. Mais dois imensos fast foods, dois shopping centers com 50 lojas, dois centros de atendimento médico e por aí vai. Tudo para tirar a maior quantidade de dinheiro dos losers da década de 80. Quer dizer, aceitamos hippies desde que tenham cartão de crédito.

De certa forma é possível dizer que o maior feito do Rock in Rio I foi colocar o Brasil na rota dos grandes shows internacionais. Depois de passarem por aqui (gente como Queen, AC/DC, Ozzy Osbourne, Iron Maiden) e de ganharem todas as mordomias possíveis e comerem o maior números de fãs brasileiras, os gringos resolveram voltar sempre. A exploração continua correndo frouxa até hoje, mas pelo menos o filho da Luciana Gimenez com o vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger, já foi uma boa vingança.

Ao total no Rock In Rio foram 10 dias, 90 horas, 5.400 minutos de muitas drogas, sexo e rock'n'roll, não necessariamente nesta ordem. O sucesso do festival já começou pela música tema composta por Eduardo Souto Neto, que foi o maestro dos shows do Roberto Carlos por muitos anos. Ela foi massivamente executada pela Rede Globo, uma das patrocinadoras, e acabou se tornando um hit. Quem não se lembra dos versos: "se a festa começasse agora/e o mundo fosse nosso de vez/se a gente não parasse mais de cantar/de viver/ouooooooooô/ uooooooooô / Rock in Rio."?

Aliás a Rede Globo destacou dois repórteres especais para a cobertura: Glória Maria e Nelson Motta. Glória ficou famosa por inventar o termo metaleiro. Utilizado durante todo o festival para designar adolescentes cheios de espinha, vestido de preto que vaiavam qualquer coisa que não fosse um solo de guitarra de oito minutos ou um vocalista de voz estridente.

Já Nelson Motta, o homem que inventou o disco de novela no Brasil, pagou o maior mico. Foi pego fumando um baseado por um agente da polícia federal. E em se tratando de um festival de rock onde todo mundo se chapou à vontade isto é um fenômeno de amadorismo. Para não complicar as coisas, o repórter da Globo pagou a clássica propina e se viu livre, leve e solto. Nada como a certeza da impunidade.

Vários artistas estrangeiros se consagraram no Festival, que contou com a maior quantidade de alunos de cursinhos de inglês que se tem notícia, pois o público cantou junto com Queen, James Taylor, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, etc. Também no Rock in Rio foi a primeira vez no Brasil que num show de rock, a platéia foi iluminada. Tudo para ver uma porção de jovens em um espetáculo genuíno de degradação chafurdando literalmente na lama, porque a cada chuva o piso da cidade do rock se transformava em um verdadeiro pântano.

Aliás, vale lembrar que a cerveja oficial do Rock in Rio foi a Malt 90. Uma das piores cervejas jamais produzidas em território nacional conhecida popularmente como Malt Nojenta. Apenas um copo (é óbvio que cerveja gelada não existiu no festival) bastava para causar uma ressaca digna de vários garrafões de vinho. E gente como Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil, Ivan Lins e Elba Ramalho, embora muito provavelmente vão omitir este dado das suas biografias autorizadas, fizeram propaganda para esta porcaria.

O Rock in Rio serviu com certeza para divulgar e solidificar o movimento do BRock . Isto se você é tolo o suficiente para acreditar que exista algo como rock brasileiro. Infelizmente, a grande maioria da juventude ficou com a noção de que o Heavy Metal é a essência do rock'n'roll, quando na verdade não passa de um sub-gênero, restrito em letra e música. Resumindo, o Heavy Metal em 90% dos casos é um verdadeiro pé-no-saco.

De qualquer maneira, em 1985 com Tancredo Neves assumindo a presidência da República, depois da derrota da campanha Diretas Já, os jovens estavam mais dispostos acreditar. A juventude tinha esperanças de crescer em um país melhor. Mas 15 anos se passaram e os mesmos adolescentes imberbes que freqüentaram o primeiro Rock in Rio descobriram que é muito mais fácil o mundo mudar a gente do que a gente mudar o mundo...

P.S. - Logo depois do fim do Rock In Rio a Cidade do Rock foi completamente destruída por ordem do então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Brizola alegou uma suposta irregularidade na documentação do terreno. Tudo para impedir que o irmão de Roberto Medina o deputado federal, Rubem Medina, pudesse capitalizar o sucesso do evento. Give peace a chance? Certo, certo...

A matemática dos números do Rock in Rio I
Durante os 10 dias do evento foram consumidos:

Milhares de Malt Nojenta (a cerveja oficial do festival) e um número equivalente de comprimidos para ressaca

123.454.0000 km2 de papel higiênico (em alguns casos foram utilizados jornais)
7.500 quilos de macarrão
3000 quilos de quejo ralado
900.000 sanduíches.
33000 tubos de mostarda
500.000 pedaços de pizza.
800 quilos de gel para cabelo

Milhares de crianças que nunca chegaram a conhecer os verdadeiros pais, nascidas da clássica frase: "Ah, que é isso. Deixa eu por só um pouquinho, gata. Isso é muito melhor que rock’n’roll".
Detalhe: O Mc Donald's vendeu - em um só dia - 58 mil hamburgers e entrou para o Guiness Book of Records graças ao Rock in Rio. Foi também a maior venda de carne de minhoca que se tem notícia.

Confira como foi a atuação dos artistas que participaram do Rock in Rio I

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