Barrichello: "é preciso saber perder"

A imprensa nacional viveu outro daqueles momentos de pura insanidade. Por mais impossível que fosse contestar o óbvio, o tradicional ufanismo brazuca levou os comentaristas esportivos a declarar o favoritismo de Rubens Barrichello para vencer o GP de Interlagos. O piloto brasileiro chegou em oitavo lugar, perdeu o campeonato para Jenson Button e declarou: "A gente lutou bastante, mas tem que saber perder". Pois é... mas esse é exatamente o problema. Saber perder é fácil, o difícil no caso do Barrichello, é saber ganhar!

Para quem não acompanhou a temporada de Fórmula 1 é preciso deixar uma coisa clara. Esse foi um dos campeonatos mais bizarros da história. Uma equipe como a Brawn fazer o campeão, além de vencer o mundial de construtores, é como se o Ipatinga vencesse o Brasileirão.

Antes de mais nada vale lembrar que Rubens Barrichello estava praticamente fora da F1. Ele era visto como um piloto sem competitividade, um mirmidão. Sempre chegando em segundo lugar e culpando todo mundo, menos a si mesmo.

Como ele aceitou uma redução de salário foi contratado para ser piloto da Brawn, uma equipe sem qualquer expressão. Porém, em uma brutal ironia do destino, a Brawn foi capaz de criar um carro altamente competitivo. Desta maneira, Jenson Button e Rubens Barrichello tiveram um início de temporada bem superior a todos os demais pilotos.

Vale notar que Button é um notório incompetente que provavelmente estava tendo sua última chance na F1. Ele sempre foi um piloto de segunda linha. Porém, ao pegar um carro competitivo fez algo que Rubinho ainda tem dificuldades: venceu.

Sim, das sete primeiras provas disputadas, Button venceu seis. Daí para frente foi só administrar a vantagem. E Barrichello? Fez o que sempre fez de melhor. Ou seja, correu atrás do líder. Chegou quase por milagre ainda com chances matemáticas no GP de Interlagos.

Liderou até a vigésima volta. Depois deu tudo errado. Terminou de forma pífia e patética com o oitavo lugar em Interlagos. Jenson Button chegou em quinto. Depois que saiu do carro, o brasileiro da Brawn GP voltou aos boxes da equipe, onde permaneceu durante alguns minutos ao lado da família. Ao falar com a imprensa, porém, o piloto procurou manter a cabeça erguida.

Mesmo com a perda do campeonato, Rubinho pode se considerar um vencedor. Apesar de sua tradicional falta de sorte, conseguiu permanecer mais um ano na F1. Foi contratado pela Williams. "Para a torcida brasileira eu só tenho a agradecer. No ano passado já estavam jogando flores no meu caixão e eu apareci este ano com força, dedicação e a raça de um brasileiro", desabafou.

Infelizmente, ao que tudo indica, o esforço de Barrichello pode ser inútil. Ele parece ser o tipo de piloto que se corresse sozinho na pista ainda assim chegaria em segundo...

Jarbas Schier