A nostalgia de 1982

O Santos é provavelmente o time mais nocivo e prejudicial ao futebol brasileiro. Para azar de quem aprecia o esporte coletivo, o Peixe segue iludindo a malta, a patuleia, a massa ignara. Os meninos da Vila Belmiro não passam de um fantástico conjunto de individualidades. Como venceu o Grêmio por 3 a 1 e seguiu em frente na Copa do Brasil, praticamente botou a mão na taça. Mas isso não é o pior. O mais chato é aguentar os saudosistas do futebol ofensivo. É velha, nauseabunda e catatumbal nostalgia de 1982.

Até hoje muitos oligofrênicos insistem em dizer que a Seleção Brasileira em 1982 foi um timaço. Era uma equipe repleta de craques, com um futebol vistoso e alegre. Exatamente como joga o Santos atualmente. Pois aquele futebol moleque e irreverente levou o escrete canarinho a uma derrota vexatória contra a Itália. Tudo por causa da incapacidade defensiva da seleção de Telê Santana. Anos depois, em 1994, o Brasil se vingaria ao ganhar uma Copa na base da retranca total e absoluta, mas essa é outra história...

Com a vitória do Santos, as múmias futebolísticas sairam do sarcófago. Todas querem o futebol espetáculo, as jogadas de efeito, os dribles para lugar nenhum. Repito: Santos é provavelmente o time mais nocivo e prejudicial ao futebol brasileiro. Por isso que a derrota gremista foi tão triste.

De qualquer forma, o Santos sofreu. No primeiro tempo, o Grêmio teve uma atuação de luxo, simplesmente impecável. Neutralizou todas as ações do Peixe. A equipe treinada por Silas foi precisa e cirúrgica. Adilson e William Magrão dominavam a entrada da área. O time de Dorival Júnior estava mais preocupado em não sofrer um gol do que jogar bola.

Na volta do segundo tempo, o Santos passou a pressionar. Até aí nada demais. É o que se espera de um adversário desesperado. Só que aos seis minutos, Paulo Henrique Ganso, que até o momento tinha uma atuação pífia e patética, chutou de fora da área, de perna esquerda, no ângulo do goleiro Victor. Não foi um gol, foi uma fatalidade. O Santos abriu o placar graças a força de suas individualidades.

A partir daí, o jogo mudou. O Grêmio saiu atabalhoadamente para o ataque. Abriu espaços e facilitou a vida dos meninos da Vila. Bastava o tricolor ter um pouco mais de calma e um técnico com visão de jogo que a situação poderia ter sido revertida com facilidade. Mas não foi o que aconteceu.

Aos 25 minutos, André foi lançado e tocou de lado para Robinho, que entrava livre. Ele teve a calma para esperar Victor sair. Com um belo toque, encobriu o goleiro. O resultado era totalmente injusto e não representava o que era a partida.

Apesar de tudo, o Grêmio encontrou forças para reagir. Aos 30 minutos, houve uma falta na meia direita. Douglas cobrou, Jonas cabeceou livre. Felipe, que passou a partida inteira em pânico, espalmou no pé de Rafael Marques, que empurrou para o gol. Seria a reação tricolor? Nada disso, o técnico Silas entrou em ação e decidiu ignorar os avisos divinos. Fez tudo errado, as trocas foram todas equivocadas e serviram para complicar uma partida que já era difícil ao natural.

Mesmo assim, o jogo seguiu aberto e repleto de tensão. Só que, aos 40 minutos, Wesley, em um jogada individual completamente inacreditável, sacramentou a vitória do Santos. Ele recebeu de Marcel, arrancou, deu o drible da vaca em Adilson, passou na velocidade por Victor e, de pé esquerdo, quase sem ângulo mandou para a rede. Fato: Wesley vai jogar mais 2 mil partidas em sua vida e jamais fará algo sequer parecido. De novo, não foi um gol foi uma fatalidade.

A vitória do Santos foi justa? Claro que sim. O próximo adversário será o Vitória, que goleou o Atlético-GO por 4 a 0 em Salvador. As duas partidas decisivas só serão disputadas depois da Copa do Mundo, nos dias 28 de julho e 4 de agosto.

O problema desta partida é que não foi o Grêmio quem perdeu. O grande derrotado é o futebol brasileiro. Já dá para sentir o cheiro de naftalina no ar. As viúvas de 1982 voltaram com a eterna ladainha do futebol ofensivo. Infelizmente, a gente sabe onde isso termina. Depois não digam que a ZeroZen não avisou...

Jarbas Schier