O Grêmio e o Transtorno Bi-Polar

Torcer para o Grêmio é uma tarefa para poucos. Só aqueles de coração forte ou com um excelente plano de saúde poder torcer para esse clube sem correr o risco de bater as botas de uma hora para outra. O time desse ano é completamente imprevisível.

O Grêmio vinha fazendo uma campanha espetacular no primeiro turno. Era vibrante e enérgico, e mesmo sem muita qualidade atropelava qualquer adversário que encontrasse pela frente. Contava com a melhor campanha, dentro e fora de casa, melhor defesa e brigava pau a pau pelo melhor ataque.

Num passe de mágica, tudo mudou. O time entrou numa melancolia, a defesa começou a vazar e o ataque ficou quase inofensivo. A equipe simplesmente tubulou num marasmo sem fim. A larga vantagem que possuía para seus adversários foi diminuindo, diminuindo, até perder a liderança para o Palmeiras. Teve uma leve recuperação, para em seguida perder a liderança para o São Paulo.

A má fase chegou ao auge contra o Figueirense. Depois de duas atuações patéticas, contra a Portuguesa e Cruzeiro, e uma vitória enganadora contra o Sport Recife, o primeiro clube a entrar de férias no futebol brasileiro, tudo levava a crer que a recuperação viria contra os catarinenses. O Figueirense tinha como esperança de gols o centroavante Tadeu, o que deixaria qualquer torcedor desesperado. O craque do time era Cleiton Xavier. Ou seja, tinha tudo para ser uma grande e recuperadora vitória.

Em campo o que se viu foi um Grêmio apático, desatento, desorganizado, desmotivado e completamente desprovido de neurônios. Uma atuação calamitosa que começou com o lateral Felipe comendo mosca num lance dentro da área, permitindo que a bola sobrasse para o lateral Marquinhos chutar cruzado e fazer 1 a 0 para o Figueirense.

O Grêmio tentou reagir. O Figueirense se encolheu para tentar explorar os contra-ataques. Os gaúchos dominavam o meio-campo, mas não realizavam nenhuma jogada perigosa. O Grêmio se limitava a levantar a bola na área do adversário, sem contar com um centroavante cabeceador, que só serviram para consagrar a zaga catarinense, que ganhava fácil a jogada aérea dos baixinhos Reinaldo e Perea.

O Tricolor chegou ao gol numa jogada esquisita, após um uma falta de dois toques devido à demora do goleiro do Figueirense em repor a bola em jogo. E o primeiro tempo terminou em 1 a 1, com o Grêmio tendo mais sorte que juízo.

Esperava-se que o time voltasse melhor no segundo tempo e partisse pra cima. Até tentou, mas levou pouco perigo. Celso Roth tentou mexer, mas Douglas Costa entrou nervoso e Marcel, em vez de fazer a única coisa que ele sabe que é trombar com os zagueiros na área, foi jogar na intermediária, na ponta direita, onde demonstrou sua total inaptidão com a bola. Até falta da intermediária bateu. E as duas melhores chances acabaram sendo do Figueirense, que por pouco não saiu vitorioso.

Tudo levava a crer que o Grêmio iria degringolar de vez. A semana foi tumultuada, com cobranças por todos os lados. Até alguns integrantes da Geral do Grêmio, que prega a filosofia do "apoio incondicional", apareceu no Olímpico para tirar satisfações. O próximo jogo seria contra o Palmeiras no Palestra Itália, e a tragédia estava anunciada.

Mas aconteceu exatamente o contrário. Os dois times estavam muito desfalcados. Mesmo assim o favoritismo palmeirense era gritante.

O Grêmio entrou em campo com o mesmo espírito do primeiro turno. Ligado na partida, marcando firme, sabendo anular as principais jogadas do adversário, se aproveitando dos erros com inteligência, coisa que estava sumida há tempos. Criava as melhores jogadas de ataque. O goleiro Victor só foi acionado em chutes de longa distância e em intervenções de cruzamentos.

O gol saiu quase no final do jogo. Tcheco cruzou uma bola da intermediária, mas fez usso como deve ser feito. A bola foi alta e em direção do gol. Como sói acontecer nesses momentos, houve um entrevero na frente do goleiro Marcos, que vacilou e a bola acabou entrando direto.

A partir daí o Palmeiras entrou em desespero. Marcos tentou ir para a área gremista três vezes. O Grêmio tratou de se aproveitar e tocar a bola, deixando o tempo passar e o terror alvi-verde foi aumentando. No final, a vitória gremista acabou sendo mais do que justa.

É difícil explicar o que acontece com o Grêmio. Como o time pode ir da completa estultice numa partida para uma atuação tão convincente no jogo seguinte?

A resposta é que o Grêmio sofre de Transtorno Bi-Polar. Essa doença leva o paciente da euforia à depressão de uma hora para outra sem motivo aparente. Provavelmente jogou todo o primeiro turno abaixo de remédios anti-depressivos. E os resultados apareceram. No segundo turno, o estoque acabou.

E depois do jogo contra o Figueirense, deve ter havido uma grande reposição no estoque. A direção, providencialmente, comprou tudo o que podia. Para o bem do Grêmio, é bom que a quantidade dure até o final do Campeonato Brasileiro.

E que tenha chegado a tempo de brigar pelo primeiro, pois é o único que pode tirar o título do são Paulo. Palmeiras, Cruzeiro e Flamengo estão fora da briga. Suas chances residem apenas na matemática e, quiçá, na maluquice do campeonato e seus resultados imprevisíveis. Mas a razão e a lógica estão mandando um abraço.

E o Inter, que já está usando o Campeonato Brasileiro para se preparar para o Gauchão 2009 há algum tempo, concentra suas forças na Copa Sul-Americana. Um campeonato em que os times levam tão a sério que o Palmeiras levou o time B para lutar pela vaga contra o Argentino Juniors na casa do adversário e o técnico Vanderlei Luxemburgo foi brincar de comentarista de TV enquanto seu time jogava. O Boca jogou com o time júnior (era o legítimo Boca Júnior), só colocando três titulares durante os últimos 30 minutos do jogo em Buenos Aires, quando a vaga já estava perdida.

O futebol gaúcho está em alta. O Inter vem bem na Sul-Americana e o Grêmio briga pelo título do Brasileiro e está próximo da vaga na Libertadores do ano que vem.

Cada um no seu quadrado.

Jarbas Schier