God of War 4

Sejamos sinceros, Kratos nunca foi um sujeito muito esperto. Ele basicamente foi um peão na mão do deuses do Olimpo. Afinal de contas, ele é o Deus da Guerra e não o Deus da Inteligência. Depois de uma série de jogos, com bons gráficos e roteiros medíocres, a franquia perdeu a força e o personagem tinha tudo para cair no esquecimento. Até que um sujeito Cory Barlog teve uma ideia para um novo jogo do fantasma de Esparta.

Mas quem é esse sujeito? Cory Barlog é o diretor criativo da SIE Santa Monica Studio da Sony Interactive Entertainment. E ele queria fazer um jogo sobre um Kratos envelhecido. Não satisfeito, queria que o espartano fosse um pai de família. Mais ainda: o game deveria abordar a mitologia nórdica. Ninguém levou muita fé, mas ele insistiu na proposta.

Essa resistência inicial até que faz sentido, a premissa do game tinha tudo para dar errado. E por um daqueles acidentes do destino não deu. Sim, God of War 2018 é bom . Na verdade, é um dos melhores jogos feitos para o PS4. Basicamente, resgata Kratos da aposentadoria, melhorando tudo que foi feito antes. Gráficos, áudio, jogabilidade, roteiro, a quantidade de acertos é quase inacreditável.

A trama é absurdamente simples. Kratos saiu da Grécia para tentar uma vida normal em Midgard. Casou com uma giganta de Jötunheim chamada Faye (também conhecida como Laufey, a Justa). E teve um filho chamado Atreus (que ele aparenta ter conhecido na semana passada). Faye morre e pede para que o fantasma de Esparta cumpra o seu último desejo, que é levar as cinzas dela para o ponto mais alto do reino.

Essa premissa, até certo ponto ingênua, dá início as aventuras da dupla. Kratos tentando ensinar Atreus a sobreviver. E o garoto tentando se conectar com o pai. Já no começo há uma batalha sensacional. Mas quem imaginou uma ação frenética vai ter uma surpresa. Apesar do início empolgante, o game aposta em uma narrativa mais lenta, desenvolvendo a relação entre pai e filho.

Kratos nitidamente não sabe agir como pai. Essa falta de traquejo gera muitos momentos cômicos, algo impensável em uma aventura do Deus da Guerra. Por outro lado, Kratos também não pode agir como antes por causa do filho. O jogo tem várias missões secundárias. Kratos jamais aceitaria esse tipo de perda de tempo. Mas Atreus normalmente solta uma frase como "a mamãe ajudaria essas pessoas". Pronto. Lá vai Kratos bancar o pai do ano...

Sem dar spoilers, existe uma cena onde Kratos está ensinando Atreus a caçar. Eles matam um javali. Surge uma bruxa e diz que aquele é o último animal da espécie. Atreus fica com pena e decide salvar o animal. Eles visitam a casa da feiticeira e Kratos é obrigado a fazer uma série de tarefas sempre com uma cara de: "Me dá o meu bacon, sua bruxa vegana!". O roteiro tira proveito desse contraste entre pai e filho.

Mesmo personagens secundários como os anões Brok e Sindri são bem desenvolvidos. Os irmãos têm personalidades completamente diferentes. A dupla de ferreiros serve como a loja do jogo, onde é possível vender e comprar itens, além de aprimorar seus equipamentos. Eles também servem de alívio cômico e oferecem várias missões secundárias. Dica: cumpra todas. Além das histórias serem interessantes, no final o jogador ganha um conjunto de armadura nível seis de cada irmão..

A mecânica de combate é excelente. Em essência, o game é um hack and slash. Kratos alterna golpes fracos e fortes e começa o jogo com o Machado Leviatã. Ele pode arremessar a arma, o que é bem útil para ataques de longa distância. Ao longo do game é possível evoluir armadura, escudo, encantamentos, entre outros itens, em um sistema muito parecido com RPGs. Kratos e Atreus também possuem um árvore de habilidades que pode ser ampliada. Ainda existe o movimento especial Fúria de Esparta (Rage of Sparta). Kratos parte para ignorância e seus golpes causam muito mais dano.

No começo até é interessante fazer Kratos evitar o combate franco, só jogando o machado. Mas conforme o jogo avança os confrontos vão ficando mais violentos. Outro detalhe importante, não se esqueça de evoluir o pequeno Atreus. Ele é de grande ajuda no combate. Suas flechas atordoam os inimigos e facilitam as finalizações. Às vezes, vale a pena investir nele e esquecer um pouco do personagem principal.

Entre um combate e outro ainda existem puzzles para enfrentar. A maioria deles é simples de resolver. A não ser quando Kratos tem de correr de um lado para o outro do cenário. Por que a corrida é feita com R3. Sinceramente, não dá para entender essa escolha. A não ser que o objetivo seja reduzir a vida útil dos controles do PS4.

Mas nem tudo é perfeito em God of War. Por exemplo, o roteiro, mesmo sendo um dos destaques do game, tem problemas. Principalmente na parte final. A trama se torna um tanto arrastada, com situações que parecem ter sido criadas para espichar a duração do game. Inclusive, o jogo tem em torno de umas 25 horas. Porém, se o seu objetivo for explorar todos os segredos (a região dos Nove Lagos reservas muitas surpresas) esse número sobe para quase 50 horas!

Os mundos de Muspelheim e Niflheim estão jogo apenas para ser fonte de frustração. Ou, quem sabe, para agradar os fãs mais hardcore que exigem tudo na dificuldade máxima. Para quem gosta de desafio, vale a pena enfrentar as Valquírias. É uma missão secundária que é melhor fazer depois de terminar o jogo. Dica: o que realmente causa dano são ataques rúnicos. Portanto, invista neles e em uma recarga rápida. Também existe uma armadura especial para enfrentá-las.

Apesar de não haver os tradicionais chefões de fase isso não chega a ser um grande problema. Há uma justificativa plausível para isso. God of War deixou de ser um jogo bobo de violência e vingança, para ser um jogo maduro de violência e vingança. Ao final do game fica claro que a jornada está apenas começando.

Há um grande segredo no final que faz todo o sentido com a mitologia nórdica. Mas a ZeroZen não vai se manifestar a respeito. Como diria o filósofo da pós-modernidade Arnaldo Baptista: "Cê tá pensando que eu sou Loki, bicho?/Sou malandro velho/Não tenho nada com isso"...

J. Tavares

Prós:
Gráficos, som, jogabilidade
Roteiro muito acima da média
Enfrentar as Valquírias

Contras:
Enfrentar as Valquírias
Ausência de chefões
Roteiro espicha demais a história

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