NÃO INTERESSA A NINGUÉM, MAS...

Prona na cabeça (ou na barba)

O carismático Enéas conseguiu novamente. Bagunçou o coreto da Justiça Eleitoral. Conseguiu uma votação recorde e foi eleito deputado federal mais votado do Brasil em toda a história com mais de um milhão e meio de votos. Graças a uma massa compacta de paulistas, o líder do Prona, ainda foi capaz de outro prodígio. Levar consigo mais cinco deputados para Brasília.

Tudo por causa de um tal coeficiente eleitoral. Ou seja somam-se os votos de todos os candidatos do partido, divide-se pelo total de votos válidos e deste valor sai o número de cadeiras que, por exemplo, o PRONA tem direito na câmara federal Em tese isto equivale dizer que, no Brasil, o voto do candidato também tem valor para a legenda. Pelo menos esta parece ser a explicação mais lógica. Embora ninguém sequer tivesse se preocupado com este tipo de coisa até o Enéas entrar em cena.

O líder do PRONA estava à beira da miséria. Tentou se candidatar por três vezes à presidência da República perdeu todas. Porém, é preciso que se reconheça, ficou em terceiro lugar em 1994 atrás de Fernando Henrique Cardoso e Lula e na frente de gente como Brizola. Logo, Enéas está muito longe de ser um aventureiro e tem, com certeza, um eleitorado cativo.

Enéas para bancar a candidatura nas eleições teve de recorrer a empréstimos bancários. Se perdesse acabaria se transformando em problema social. Acabaria por fazer parte dos que estão abaixo da linha de miséria. Iria morar debaixo do viaduto e comer restos de bauru no calçadão. Todavia, o líder do PRONA se elegeu com folga. E conseguiu criar a maior polêmica destas eleições.

E nem foi o barbudo político quem conseguiu a proeza. O problema é que graças a sua votação recorde, Enéas foi capaz de eleger Valdecy Dias, um médico carioca. Valdecy fez apenas 275 votos e mesmo assim vai para Brasília. Isso mesmo. Com 275 votos, Valdecy conseguiu se eleger em um dos mais disputados colégios eleitorais do país. Vai representar os interesses de São Paulo em Brasíla.

Tamanha contradição foi demais para a imprensa brasileira que fez uma verdadeira campanha contra o pobre Valdecy. Mais um pouco e teriam aberto uma CPI no congresso ou pedido uma recontagem dos votos. Quando perguntado por um maremoto de repórteres se considerava justa a sua eleição, respondeu de maneira clara e precisa. "Claro. A lei é essa".

E aqui entra o ponto fulcral e basilar desta irrelevância. A lei é igual para todos. Do PT ao PSDB. Do PFL ao PMDB. Se o Enéas teve uma estrondosa votação tem o direito de levar mais cinco deputados. Ele não infringiu a lei. Aliás, agiu absolutamente de acordo com o regulamento. E não se pode mudar a regra do jogo se não se concorda, digamos assim, com o penteado do líder do PRONA.

Portanto toda a campanha movida contra os 275 votos de Valdecy Dias é absolutamente inútil. É de uma irrelevância máxima. Pensando pelo lado positivo ele deve ser o primeiro deputado federal que conhece mesmo todo o seu eleitorado. A tacanha mídia brasileira poderia usar todo o seu tempo livre para começar uma discussão sobre a validade ou não voto distrital misto. Quanto ao Enéas sobrou o consolo de continuar tentando se eleger presidente. Afinal, se um metalúrgico levou 16 anos ele ainda tem chances...

Da Equipe de Articulistas

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