Se o vídeo-clip é uma mídia ruim... A MTV é um veículo pior

Vamos ser sinceros a ZeroZen costuma se gabar sempre que pode, pois então arquive o próximo texto em “nós avisamos” junto de “nós já sabíamos”. Pois assim como o Casseta & Planeta jogou a toalha e admitiu que não sabe fazer cinema a MTV Brasil assumiu que não sabe fazer TV. Assim como o morbidamente obeso resolve fazer uma cirurgia de redução do estômago, a MTV Brasil resolveu pela solução final de eliminar de vez o vídeo-clip de sua programação, digamos a razão inicial de sua existência. E como se não bastasse para tapar os furos na grade de programação trouxe vários programas da MTV americana de quatro, cinco anos atrás. Lixos como Made, Room Raiders e Why I can be you.

É realmente reconfortante ver a produção nacional da MTV Brasil ser reduzida quase à metade graças à incompetência ou a total falta de sintonia com sua parca audiência. Só isso, por exemplo, explicaria a permanência de Cazé e Marina Person na emissora. E convenhamos assistir pessoas, digo, criaturas navegarem ou baterem papo na Internet não se categoriza como programa de televisão. É pior que desistir: é nem tentar criar algo com o mínimo de interesse para aquele ¾ de um traço que a MTV chama de audiência. Até mesmo info-comerciais são mais interessantes do que isso.

Parece haver a intenção clara de padronizar a programação da MTV Brasil nos moldes da emissora americana. Inclusive com versões nacionais para programas como Pimp My Ride e The Real World. E as chances de isso dar certo são de zero a nulas. Só depois não digam que nós não avisamos...

Mas o pior é que essa foi uma decisão vinda de cima, a MTV americana está mal das pernas, demitiu mais de mil funcionários no início do ano e cancelou o programa TRL, Total Request Live, o Disque MTV deles, para depois voltar atrás tornando o programa, que era ao vivo, num show pré-gravado para cortar custos. A MTVila Brasil só obedeceu a ordem da matriz. É claro que ninguém levou em conta que o Brasil maravilha está a uns três upgrades atrás da humanidade. Mas é aquela coisa: macaquinho vê macaquinho quer repetir.

Em seus 20, 30 anos de existência além de destruir a música como conhecemos e corroborar para o declínio da civilização Judaica Cristã, a única coisa que a MTV produziu de relevante nos últimos anos foi o fenômeno dos reality shows. O que na mão de pessoas muito mais capacitadas e mal intencionadas deram origem a monstros como American Idol e Big Brother. Ou seja, sem muito esforço a MTV foi vencida em seu próprio território, de novo.

Até mesmo a tão apregoada edição “videoclípica”, aquela que diz que nenhuma imagem deve ficar na tela por mais de 30 segundos, motivo de piada no filme O jogador de Robert Altman, criou uma geração de criaturas ignorantes que não consegue prestar atenção num vídeo-clip de 4 minutos, o que dirá num programa de 30 minutos. Mais uma vez o feitiço virou contra o feiticeiro.

Sejamos sinceros ninguém imaginava há uns dez anos atrás que a revolução iniciada com a Internet atingiria o mercado fonográfico. E certamente o pessoal da MTV e as grandes gravadoras, todo esse pessoal, que se achava o dono do campinho, não tinha a menor idéia que alguém estava prestes a estragar a festa deles.

O fato é que o pessoal da MTV deve estar se sentindo, nos últimos anos, como aquele funcionário encarregado do mimeografo de uma empresa que acabou de comprar uma máquina de xérox, que assisti abobalhado sua relevância desaparecer a cada dia.

Mas o grande problema dessa história é achar que todos estão na mesma página quando ainda tem gente lendo a introdução. O mercado fonográfico brasileiro ainda está dominado pelos CDS de trilha sonora de novela— o horror, o horror— e correndo por fora os acústicos da MTV. E por aquela maioria silenciosa que houve qualquer coisa, tipo funk, reggae, axé, pagode etc.

A venda de música online no Brasil é basicamente uma piada, se você comprar cada música de um CD individualmente vai acabar pagando mais caro do que se comprasse na loja e com uma qualidade inferior. É tipo de negócio que não se pode recusar, (alerta ***sarcasmo*** alerta). Isso sem contar que obviamente o brasileiro, que é malandro, vai simplesmente baixar de graça de algum blog ou site pela internet.

Sem falar que enquanto a venda de música online estiver na mão de gente que nunca entendeu nada de Internet, monopólios corporativistas cuja visão do mercado brasileiro sempre foi errônea, ou abusiva. A coisa simplesmente não vai funcionar...

Da equipe de Articulistas

P.S. 1: Sem o Disk MTV, ou qualquer programa que sirva de parada de sucessos, o VMB desde ano que além de não carregar a definição de prêmio da versão americana vai possivelmente o perder “V”, ficando apenas MB. Quando perceberem que “M” nunca foi exatamente o forte da MTV, vai restar o B. Esse todo mundo sabe não tem futuro algum...

P.S. 2: No VMB de 2006 nós escrevemos: “se a MTV descolasse uma sessão de filmes dublados seria igual a todas outras emissoras...”. E não é que eles resolveram criar uma sessão com filmes dublados pelo pessoal do Hermes e Renato chamada Tela Class? Alguém anda vendo Kung Pow demais na MTV.