Este é o país de Bundas?

ZeroZen a revista que não agradece, não dá bom dia e se não sair da frente passa por cima, não poderia deixar de comentar o lançamento da revista Bundas, uma triste e inócua tentativa de reviver os bons tempos do Pasquim. Aquele jornal intermitente publicado no Rio de Janeiro, que nas décadas de 60 e 70 todo mundo comentava, mas ninguém chegava realmente a ler.

O sucesso de Bundas só comprova o empobrecimento intelectual do público leitor brasileiro. Ao ler a revista temos a impressão de estar sofrendo as primeiras conseqüências do tão falado bug do milênio, pois aparentemente voltamos a 1969. É o mesmo humor carioca—Deus! até quando?— e a mesma ideologia de boteco da época.

Se isso é o melhor que nata do humor e do jornalismo brasileiro pode fazer, como a própria revista apregoa : ou nata azedou ou está com a data de validade vencida. Bundas é uma revista de uma piada só,  resta saber se o Ziraldo conseguiu a façanha de transformar uma piada em revista ou uma revista em piada: é o samba do crioulo doido de uma nota só.

Folheando suas esparsas páginas de conteúdo nulo e rasteiro, percebe-se que Bundas é uma revista arcaica, provinciana, que ainda acredita que o mundo gira em torno de Ipanema e do Rio de Janeiro. No fundo essa gente ainda parece crer que o Rio é a capital do país. Triste ilusão de quem está parado no tempo e até hoje ainda não assimilou as mudanças ocorridas no país nos últimos trinta anos.

Os colaboradores da revista parecem um bando de velhos rabugentos desiludidos com a vida, a grande maioria de perdedores natos, que nada de valor fizeram a vida inteira, e que de repente acordaram de um ostracismo milenar pensando que ainda são os donos do pedaço. E com a revista inutilmente tentam reviver as glórias de um passado distante e duvidoso, para propagar assim a legenda de si mesmos.

A maioria dos colaboradores egressos do Pasquim parecem sentir falta da censura, com a liberdade todos eles perderam o rumo. É como se eles só soubessem escrever sob pressão. Não é por acaso que a democracia no país, ainda que tacanha, decretou o fim do Pasquim nos anos 80. Em Bundas parece haver um desejo secreto e silencioso entre seus inúmeros colaboradores: o desejo da censura, uma ânsia por uma restrição qualquer, que parece martirizá-los. É possível até imaginar a seguinte cena surrealista: a turma de Bundas, na frente do prédio da redação da revista, desesperada atacando os incautos transeuntes: "alguém nos censure", "façam-nos parar" ,"só uma restriçãozinha por favor".

Bundas se parece um pouco com aqueles jornais laboratório de comunicação social: no primeiro número todos querem colaborar, no segundo só os mais desesperados e sem nada melhor para fazer colaboram. O número de colaboradores vai diminuindo a cada nova edição, até que o jornal seja feito apenas por uma ou duas pessoas. Foi mais ou menos dessa forma que O Pasquim terminou seus dias, sendo levado sozinho pelo Jaguar, que administrava o jornal unicamente para pagar suas contas de bar.

Percebe-se que o principal problema de Bundas é ter humoristas demais e jornalistas de menos, que juntos são duplamente incompetentes: não conseguem ser nem engraçados, nem críticos. Sente-se claramente a falta de alguém como Paulo Francis, único colaborador do Pasquim que realmente interessava. Só que pelo que se sabe de Francis, mesmo se estivesse vivo, nunca embarcaria numa canoa furada dessas.

Supostamente uma das idéias dos criadores de Bundas é abrir espaço para novos talentos exporem seus trabalhos na revista. Bem, se eles querem realmente fazer isso, é simples: peçam demissão de seus empregos nos grandes jornais do país! Assim abriria espaço onde se paga melhor e em dia. Pois com o Jaguar de editor é bem certo que na revista ninguém veja a cor do dinheiro.

Da Equipe de Articulistas

Last but not least - É interessante notar que Bundas tem o rabo preso, a revista se apoia sobre uma premissa falsa de quem mostra a bunda em Caras não mostra a cara em Bundas. Se essa é a linha editorial da revista, se percebe claramente que ela possui dois pesos e duas medidas. Pois nos dois primeiros números tanto alguns colaboradores como entrevistados da revista já apareceram em Caras.