Sydney 2000: É preciso saber perder

Durante aproximadamente duas semanas os brasileiros foram massacrados com uma verdadeira overdose de esportes: os Jogos Olimpicos. Direto de Sydney, na Austrália, terra dos cangurus, dos ornintorrincos e dos equidnas, ou seja, todos os bichos rejeitados pelo departamento de criação de Deus, o espectador patrício assistiu estupefato à quebra de vários recordes mundiais. Todos conseguidos por atletas de primeiro nível, alimentados nas benesses e beneplácitos do primeiro mundo.

O problema é que a mídia resolveu vender uma idéia impossível e inviável: que o Brasil era o país dos esportes. É algo tão absurdo quanto tentar induzir alguém a adquirir um terreno na lua. Por isso milhares de pessoas se deram ao trabalho de varar as madrugadas insones em busca do tão sonhado ouro olímpico. Acabaram ficando apenas com o golden gol que a Seleção de Camarões enfiou no Brasil.

O que aconteceu foram fracassos monumentais e retumbantes. Aliás, era muito mais importante para o estado anímico do brasileiro a glorificação do fracasso. Não teríamos como perder. Ligaríamos os televisores para ver os compatriotas serem surrados, humilhados. A comoção seria geral.

O homem comum bateria a mão no peito e diria: mas que derrota! eu também sei perder assim! Continuando nesta linha de raciocínio estaríamos criando uma fantástica geração de losers. Gente que por perder sairia sempre vencedora. O que é preciso acontecer é absurdamente simples. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) não percebeu o óbvio: se não conseguimos alcançar as nossas metas basta rebaixá-las!!

Pensem na economia para os já surrados cofres públicos brasileiros. Nada de mandar atletas ou nomes consagrados. Basta pegar qualquer funcionário público de repartição e dar uma viagem de graça. Depois era só transmitir o vexame em cadeia nacional, com entradas irônicas do comentarista.

Na verdade, o brasileiro tem um problema crônico ele não sabe decidir. Somos um povo avesso a tomar a frente das coisas. Não queremos lutar pelo nosso sucesso é mais fácil culpar o governo. Ou seja, o amarelo na nossa bandeira tem mesmo razão de ser. Se você não acredita é só reparar quem o povo decidiu colocar no poder...

No fim das contas é preciso se conformar. Aceitar a derrota como uma irmã. Apesar do ufanismo descontrolado dos narradores, o Brasil precisa acordar. Basta seguir o exemplo dos Estados Unidos. Na década de 80, preocupado com a disseminação das drogas entre a juventude americana, o FBI pediu a indústria de games que colocasse a seguinte mensagem nos jogos: "Winners don't use drugs". Ou seja, vencedores não usem drogas.

A medida funcionou? Os garotos do Tio Sam pararam de fumar crack ou cheirar cocaína? Claro que não. O raciocínio lógico foi muito simples. Ora, se eu fosse mesmo um vencedor estaria aqui neste fliper gastando minhas fichas para tentar acabar "Tartarugas Ninjas"?

Assim fica valendo a máxima: o importante é competir. Ou melhor, competir e perder. Por que senão podemos ser os primeiros vamos ganhar todos os últimos lugares. Ninguém segura este país!

J. Tavares