20/01 – Sábado

Os Ripongas contra-atacam
Sábado, embora seja difícil de acreditar, foi uma das noites mais vazias do festival. As atrações também não colaboraram. Tirando Neil Young, pela curiosidade antropológica, nenhuma tinha peso ou cacife para trazer mais gente para a cidade do rock. O interessante é que a platéia veio a fim de diversão. Pareciam mais turistas do que fãs de rock. Foi de longe a platéia mais receptiva do festival. Tudo era maravilhoso. Se por acaso a orquestra de pífanos de caruaru tocasse no palco mundo Stairway to Heaven do Led Zeppelin, receberia uma ovação triunfal. Com um público desses os artistas nem precisaram se esforçar muito. Uma dica para a organização do Rock In Rio: descubram o telefone de todo mundo que foi no sábado e contratem esse pessoal como platéia. O coeficiente de garrafas d'água atiradas no palco iria diminuir drasticamente.

Engenheiros do Hawaii – Humberto Gessinger é o mais equivocado de todos roqueiros dos anos 80. Esse cara não nasceu para a coisa, devia ser pastor evangélico ou algo assim. O show teve a participação nada especial de Paulo Ricardo, juntos eles tocaram "Rádio Pirata" do RPM. Com isso, praticamente, tudo de ruim que foi feito nos anos 80 esteve no Rock In Rio 3 de forma direta ou indireta. Gessinger não foi vaiado até porque nem tinha público suficiente para isso. Despejou sua tradicional cantilena de trocadilhos infames em versões levemente alteradas das músicas de estúdio da banda. Faturou o seu cachê ajudado por um público, cheio de gaúchos, com direito fã club e tudo mais, que estava disposto a escutar qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

Elba & Zé Ramalho – Com um repertório que misturava Raul Seixas, Luiz Gonzaga e as composições viajantes de Zé Ramalho — que hoje em dia não deve ter a menor idéia do significado de suas letras — a dupla fez um show no limite de suas possibilidades. A apresentação começou com "Eu nasci há dez mil anos atrás" de Raul Seixas, uma música bastante apropriada para dupla. Afinal Zé Ramalho parece realmente com alguém que tenha nascido há dez mil anos atrás. Já Elba deu uma recauchutada no maquinário e mostrou que continua em forma. Diga-se de passagem metade de cachê de Elba Ramalho deve ter sido gasto em tintura para cabelo. Como dos dois Ramalhos, apenas Zé tem algum talento. A função de Elba foi evidentemente "levantar" o público...

Kid Abelha – A Paula Toller é uma cantora boa, mas não necessariamente uma boa cantora. Essa piada é velha. Mas ainda funciona, pois continua verdadeira. O QI de Abelha fez seu showzinho de sempre. Para ganhar a platéia Paula Toller precisou apenas mostrar um pouco do seu real talento, realçado por modelito altamente revelador. Na verdade, os melhores momentos do show foram quando Paula largou o microfone e deixou o público cantar sozinho,  como na música Pintura Íntima. O Kid Abelha sempre foi aquela banda medíocre que todo mundo acaba decorando uma que outra canção. Hoje, 15 anos depois, continua exatamente igual. E isso não é necessariamente um elogio.

Dave Matthews – Meu Deus como esse cara é chato! Esse cara é mais chato que o Sting e James Taylor juntos. Imaginem se tivessem escalado essa figura para primeira noite do festival! Pensando bem é melhor nem imaginar. Dave Matthews deve possuir o monopólio da chatice. O cara é tão chato, mas tão chato que deve ter viajado ao Brasil num container de carga. Triste notar que não tinha um metaleiro na platéia para jogar uma garrafa de plástico nesse cara. O Dave é tão mala que fez campanha contra discos piratas apoiado pelo governo dos Estados Unidos. Mas quem vai querer um disco pirata desse cara? O momento menos chato do show foi uma versão no limite de All along the Watchtower de Bob Dylan.

Sheryl Crow – Sheryl foi backing vocal do Michael Jackson e isso não é, necessariamente, motivo de orgulho para ninguém. Mas de alguma forma ela se recuperou desse mal começo. Não totalmente, é preciso dizer a verdade. É aquela velha história: quem trabalha com rosas sempre guarda resquícios do perfume. Mas a cantora americana não teve problemas em agradar a platéia menos exigente do festival. Sheryl desfilou seu repertório de hits padrão rádio FM de forma competente e burocrática. Não faltou nem mesmo a lamentável versão de Sweet Child O’Mine dos Guns’n’Roses. Como se a original já não fosse chata o suficiente....

Neil Young - É sabido que o Rio de Janeiro é uma das cidades brasileiras que tem mais hippies por metro quadrado. O que, com certeza, contribuiu para a decadência da cidade a partir dos anos 70. Vocês devem estar imaginando o que Neil Young tem a ver com isso... Well, ele é um dos poucos sobreviventes da geração Woodstock que ainda tem alguma coisa para dizer. E resumindo em poucas palavras é mais ou menos o seguinte: all the hippies sucks. O cara que cantava que o Rock’n’Roll nunca ia morrer, sabe que a história hoje em dia é um pouco diferente. Pois se depender desse festival o rock já morreu há muito tempo. Acompanhado da Crazy Horse, como tínhamos anunciado, o show começou com Sedan Delivery do álbum Rust Never Sleeps(77). A banda parecia que não tinha sequer passado o som, mas aos poucos as coisas foram se ajeitando. O cara não deu nem boa noite e já engatou a segunda a música: a clássica Hey Hey My My, que deixou a versão do Oasis— se lembram disso?— no chinelo. Young só se dirigiu ao público na quarta música Cinnamon Girl do álbum Everybody Knows This is nowhere(69) e só iria falar de novo com a platéia duas músicas depois. Uma simpatia em pessoa. O show teve quase duas horas de duração, mas tirando o tempo que Young levava para terminar cada música, poderia facilmente ser resumido em 1 hora. O público não percebeu, ou pareceu não se importar, mas Young tocou o hino americano numa de suas intermináveis codas recheadas de feedbeck e distorção que permeavam o show. De longe o melhor show do festival.

Set list completo:
Sedan Delivery
Hey Hey My My
Love and Only Love
Cinnamon Girl
Fuckin’ Up
Cortez The Killer
Like a Hurricane
Rockin’ in the Free World/ The Star Spangled Banner
Powerfinger
Down by the River
Welfare Mothers

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