Planet Hemp é Palha Seca

Muita gente ficou curiosa para saber o quê diabos o Planet Hemp iria fazer no seu segundo disco, uma vez que no anterior, Usuário (1995), de certa forma, a banda fechava (ops!) a conta e passava o crivo no assunto maconha, presente em quase 99% das letras da banda. Pois bem, baixada a fumaça (ops !) ou passado o efeito, aquele primeiro disco deixava a impressão que era apenas uma palha seca (ops!), uma erva de chá da braba. Esse “Os cães ladram mas a caravana passa” é pior, é bagulho malhado de terceira qualidade, muito inferior ao primeiro, que compromete até mesmo o fornecedor, digo a banda...

Esse disco tem como maior diferencial., em relação ao anterior, a boa produção, a cargo do produtor Mario Caldato Jr., que produziu os últimos cd´s dos Beastie Boys. Apesar de, mesmo que pareça óbvio, em certos momentos Caldato se esqueça que esteja produzindo um cd do Planet Hemp e faça a banda soar como o Beastie Boys. Pode-se dizer que Caldato ‘batizou’ o som da banda, colocando mais hip-hop e menos psicodelia.

Musicalmente a banda até que evoluiu bastante, mas e as letras? Ah... as letras. O Planet Hemp assumiu de vez o lance de porta-voz da ‘grande família Hemp’. A banda chega mesmo a regravar “Malandragem dá um tempo” de Bezerra da Silva, com uma letra diferente, mantendo apenas aquele refrão antológico: "vou apertar mas não acender agora". Ao que parece a idéia era autenticá-la para novas gerações. Porém o que a banda deixa transparecer é que só eles podem falar sobre maconha, só eles seriam íntegros o bastante... O Planet Hemp continua achando que descobriu a maconha na semana passada, e que está falando de uma grande novidade.

Para falar a verdade o discurso da banda não mudou uma vírgula.  A banda contudo encontrou novos alvos para sua verve radical e desmedida. Agora é a vez dos MC’s (mestre de cerimônia) e das torcidas organizadas de futebol, que cá entre nós são bem menos perigosos que do que qualquer traficante de drogas.

O interessante é que o que vale para um, vale para o outro. Tudo que Planet Hemp diz pode ser usado contra a banda e vice-versa. Faço minhas as palavras da banda: “do que adianta tentar conscientizar meia dúzia de babacas que só sabem criticar”.Pode-se até concluir que o titulo do cd é autocritico: uma vez que o Planet Hemp continua latindo e a caravana, por mais que pensem o contrário, continua cagando e andando para o que eles falam.

Só para descargo de consciência... recentemente o Marcelo D2 vocalista do Planet Hemp declarou em entrevista à MTV, que Fernando Gabeira lhe dissera que o Brasil terá, daqui há pelo menos cinco anos, uma lei sobre entorpecentes menos branda, que discrimine o usuário do traficante. Se depender do empenho do Gabeira para isso acontecer, pode ter certeza não acontecerá. Alguém tem que dizer ao Marcelo que o Gabeira é um dos maiores impostores da história recente do Brasil, e que em tudo o que ele diz ou escreve, tem que se dar um bom desconto. Pois a única coisa que o Gabeira sabe fazer com alguma competência é autopromoção, querem melhor exemplo disso do que aquele seu livro pífio e mentiroso sobre o seqüestro do embaixador americano...

Mas voltando ao que interessa: nesse negócio de legalização das drogas, o grande problema é legalizar o traficante.

E como diria Noel Rosa: a invenção do revólver veio resolver o problema de valentia de muita gente...

Saulo Gomes