Acústico Legião Urbana

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"Os jovens querem ver alguém com violão, de pé em cima da cadeira, cantando fraternidades pueris(...) uma vez que não há uma moral aceita pela comunidade para contestar. O que há é o vácuo espiritual e o excesso que procura preenchê-lo." Paulo Francis.

O lançamento do acústico da Legião Urbana para MTV, três anos depois da morte do líder da banda Renato Russo, é antítese de tudo o que foi feito nos últimos anos no rock nacional: é simples, tecnicamente imperfeito, diáfano e fartamente sentimental. Vendeu mais de 700 mil cópias em menos de duas semanas e deve alcançar a marca de um milhão de cópias antes do final do ano, com o Natal e tudo mais.

Quando foi transmitido pela MTVem 1992, o acústico da Legião tinha apenas 6 músicas, e se não era a melhor coisa do mundo pelo menos acabava rápido. Inclusive parte deste material seria aproveitado depois no duplo Música para Acampamentos de 1993. A integra do material gravado para o show foi editado e lançado agora, sem qualquer tratamento de estúdio e mantendo inclusive alguns diálogos entre as músicas. O resultado é um trabalho tosco, pouco representativo e indicado apenas para os fãs mais fanáticos e não muito exigentes. Mas ninguém precisa ficar preocupado, pois eles existem aos milhares.

O CD é o registro mais afetado de Renato Russo, que quase tem uma síncope quando a platéia reage negativamente quando ele resolve, durante um intervalo, tocar uma versão de uma música dos Menudos: "Hoje A Noite Não Tem Luar" ("Hoy Me Voy Para Mexico"). A platéia, composta por alguns poucos convidados e integrantes do fã-club da banda, tem durante toda apresentação um comportamento extremamente reverencial.

A performance da banda é nervosa e errática. Em Sereníssima, por exemplo, Renato Russo chega a se assustar com a reação repentina da platéia e interrompe a música na metade, para reiniciá-la logo depois. Sem contar os vários "errinhos" na interpretação de alguns dos maiores sucessos da Legião. No geral fica a impressão de desleixo que pode ser interpretado, erroneamente, como uma postura musical da banda.

O sucesso deste acústico, com certeza, confirma a Legião no posto de maior fenômeno pop do rock nacional dos últimos anos. É interessante notar que até hoje não surgiu uma banda que, sequer, substitua a Legião Urbana. Sério. A própria MTV nos seus nove anos de existência não conseguiu produzir um fenômeno de público parecido. E falta total de um nome que mobilize o público jovem, acabou acenando para o retorno de inúmeros medalhões da MPB e do rock nacional dos anos 80 as paradas. Enquanto a maioria das novas bandas de rock nacionais preferem cantar asneiras em inglês de cursinho, sonhando ingenuamente em conquistar o mercado exterior. O que evidentemente nunca vai acontecer. Seria o caso de reavaliar a concorrência e aprender a cantar em espanhol... A juventude acaba se identificando sempre com os mesmos ídolos, sem perceber que a maioria representa apenas o fracasso da geração anterior.

Num ano em que, até agora, não houve nenhum lançamento relevante na área musical, marcado por álbuns acústicos, registros ao vivo, e coletâneas caça-níqueis. A nostalgia parece ser a única saída. Estamos presenciando um retrocesso, pois voltamos para o mesmo banquinho e violão, e para as mesmas banalidades sentimentais de outrora. Essa eterna infância musical que, infelizmente, parece nunca vai ter fim.

Saulo Gomes