Paul McCartney - Up and Coming Tour (Porto Alegre)

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Afinal o que é rock'n'roll? Os óculos do John ou o olhar do Paul?

Humberto Gessinger em mais um de seus trocadilhos infames

Quem diria que um Beatle se apresentaria em Porto Alegre? E tudo isso graças a uma mulher perneta. Sim, se você é fã de Paul McCartney coloque Heather Mills no seleto rol de suas orações. Ela ganhou, em um tumultuado e complicado divórcio, a bagatela de US$ 48,6 milhões - cerca de R$ 84 milhões. Pronto. Era o incentivo que faltava para o velho Macca sair do seu "retiro espiritual" para cobrir o prejuízo e garantir uma aposentadoria decente...

A ZeroZen, como não poderia deixar de ser, esteve presente no evento. Antes de mais nada, vale notar a incrível desorganização na hora de entrar no estádio Beira-Rio. Se você comprou gramado comum, sofreu como um Pete Best. Sim, eram nada menos do que cinco filas para uma única entrada. A bagunça foi geral e provocou uma série de atrasos e reclamações.

Mas antes do show começar uma boa notícia. A dupla Kleiton e Kledir não ia mais fazer o show de abertura. Evitaram uma vaia monumental de 50 mil pessoas. Foi uma decisão que demonstrou a maturidade musical dos pelotenses. Um bizarro trio de artistas que tocou versões eletrônicas de sucessos do rock ficou encarregado de ser vaiado antes da atração principal.

Depois do dispensável show de abertura, o público acompanhou pelo telão algo que pode ser definido como o maior powerpoint dos Beatles de todos os tempos. Era uma colagem de imagens da banda embalada por versões de outros artistas de canções do Fabfour. Quando a maioria do público já pensava em usar o "denunciar spam" do Gmail, sir Paul McCartney entrou no palco. Diga-se de passagem o show devia começar às 21h. Mas Paul só apareceu às 21h07. Ou seja, jeitinho brasileiro 1 X 0 pontualidade britânica...

McCartney subiu ao palco vestindo uma camisa branca, suspensórios (é a idade...) e um ridículo blazer roxo. O repertório não teve novidades em relação aos outros shows da turnê, e a noite começou com a dobradinha "Venus and Mars/ Rockshow". Depois, mais uma do repertório do Wings, "Jet". Até aí o público cantava junto e era um show aparentemente normal. Só que quando Paul tocou os primeiros acordes de "All My Loving" o gramado do Estádio Beira-Rio afundou uns dois ou três centímetros tamanha a quantidade de pulos.

A quantidade de tios— tios? avôs talvez seja mais correto— chorando foi algo impressionante. E essa lógica seguiu até o final do show. Ou seja, as músicas da carreira solo de Paul McCartney eram sempre bem-recebidas pelo público. Mas no momento em que uma canção dos Beatles entrava no repertório era acompanhada a plenos pulmões.

Às vezes esse tipo de atitude do público acabava por gerar algumas injustiças. Por exemplo, uma versão matadora de "Let Me Roll It", com direito a uma citação a "Foxy Lady", de Jimi Hendrix, foi ignorada. Todavia, até as canções melosas e babacas dos Beatles como “And I Love Her” tiveram uma acolhida monumental.

Paul tem muito tempo de estrada. Por isso, soube dosar com perfeição os momentos de rock com as baladas. Aliás, o ex-beatle se mostrou um grande canastrão. Usou um arsenal de caretas para conquistar a plateia. No caso do Rio Grande do Sul foi só apelar para o bairrismo. Ele se comunicou em português e usou expressões locais como "tri-legal". Para fazer a alegria dos gaudérios ainda disparou: "ah, eu sou gaúcho".

Tudo bem que o português de Macca não é lá essas coisas. Mas provavelmente o inglês de 99% da plateia também não é digno de nota. Paul, inclusive, dedicou "My Love" para a "minha gatchinha, Linda". Ainda sobrou tempo para homenagear John Lennon em "Here Today". E até George Harrison foi lembrado em uma versão para "Something". Só faltou homenagear o Ringo Starr. Mas para isso seria preciso beber uma garrafa de uísque inteira e possivelmente não teria show...

Vale notar que a reta final do show é uma absurda coleção de sucessos. “Band on the Run”, “Ob-La-Di Ob-La-Da”, “Back in the USSR”, “I've Got a Feeling”, “Paperback Writer”, “A Day in the Life” / “Give Peace a Chance”, “Let It Be”, “Live and Let Die”, “Hey Jude”.

Provavelmente o ápice do show ficou mesmo na dobradinha “Live and Let Die” e “Hey Jude”. O ex-beatle sentou ao piano para tocar Live and Let Die, do Wings. Até aí, tudo bem. Só que durante a execução da música, o público foi surpreendido com chamas no palco e três explosões de fogos. Paul se levantou fazendo caretas, como se o barulho dos fogos de artifício o tivesse deixado surdo. E depois emendou Hey Jude. O Beira-Rio inteiro cantou os versos “Na, na na na na na, na na na, Hey Jude”. E mesmo quando o ex-beatle saiu do palco o público repetia sem cessar: “Na, na na na na na, na na na, Hey Jude”. E na plateia o Nei Lisboa devia estar matutando: por que eu não gravei essa música...

Paul McCartney saiu do palco e voltou mais duas vezes. No primeiro bis: “Daytripper”, “Lady Madonna” “Get Back”. Só que até o momento, o público ainda não tinha escutado Yesterday. Para acalmar os ânimos, o sucesso ficou para o último bis. O público simplesmente veio ao delírio com “Yesterday” e “Helter Skelter”. Antes da última música Paul leu alguns cartazes e acabou convidando duas moças da plateia a subirem no palco. Elas queriam tatuar o autógrafo de Macca na pele. Bem, acabaram conseguindo. Só que isso, claro, atrapalhou um pouco o encerramento. Depois da parada, a banda tocou “Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band” / “The End”.

Houve então uma tempestade de papel verde-amarelo picado. “Até a próxima”, se despediu Paul. Bem, a plateia até pode ter acreditado, mas não a ZeroZen. Afinal, é pouco provável que o ex-beatle retorne ao Brasil. Macca deve ter dito até a próxima encarnação, mas alguma coisa se perdeu na tradução..

Pedro Camacho

P.S.1 - Ir com a camiseta de Grêmio ou Inter no show é a prova do bairrismo ridículo dos gaúchos. Não era Gre-nal, pô! Era um show de rock.

P.S.2 - Só existia uma camiseta dos Beatles que era perfeitamente adequada para o show. Era a que mostrava a capa do disco Abbey Road. Primeiro por que mostrava a verdade (Paul is dead) e também por que tudo que o Paul McCartney sempre sonhou na carreira solo era repetir a genialidade daquele lado B...

Setlist do show em Porto Alegre “Venus and Mars” / “Rock Show” “Jet” “All My Loving” “Letting Go” “Drive My Car” “Highway” “Let Me Roll It” “The Long and Winding Road” “Nineteen Hundred and Eighty-Five” “Let 'Em In” “My Love” “I've Just Seen a Face” “And I Love Her” “Blackbird” “Here Today” “Dance Tonight” “Mrs Vandelbilt” “Eleanor Rigby” “Ram On” “Something” “Sing the Changes” “Band on the Run” “Ob-La-Di Ob-La-Da” “Back in the USSR” “I've Got a Feeling” “Paperback Writer” “A Day in the Life” / “Give Peace a Chance” “Let It Be” “Live and Let Die” “Hey Jude”

Bis “Daytripper” “Lady Madonna” “Get Back”

Bis 2 “Yesterday” “Helter Skelter” “Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band” / “The End”

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