Pitty – Anacrônico

A temporada de suicídios comerciais na música corporativa brasileira está aparentemente aberta. Primeiro foi o pessoal do Los Hermanos e agora Pitty em seu esperado (sic/sci-fi) segundo CD. A roqueira baiana, que assim como inteligência militar é uma contradição em termos, caiu na armadilha de acreditar em todas as asneiras escritas sobre ela pela imprensa chapa-branca.

Vejam vocês, depois de vender 250 mil cópias do seu Cd de estréia, o equivocado Admirável Chip Novo, Pitty se tornara a última esperança branca das gravadoras nacionais para tentar salvar o combalido mercado fonográfico nacional. Mas o pessoal da gravadora Sony/BMG na ânsia de capitalizar com o único sucesso recente da gravadora deu os primeiros passos para matar a galinha, ops, dos ovos de ouro.

Pois em seu segundo álbum, Pitty ganhou liberdade total para gravar o disco que quisesse, e obviamente isso não foi uma boa idéia. O executivo de grande gravadora já devia saber que artista brasileiro tem que ser tratado no chicotinho. Não pode ter liberdade.

O resultado é um álbum mais ‘pesado’, leia-se desprovido de qualquer originalidade, e rock’n’roll, leia-se sem o menor interesse para os programadores de rádio FM ou para aqueles seres amorfos que fazem a seleção de músicas para trilha sonora de novela da Globo. Não há no álbum uma faixa sequer que se destaque.

Anacrônico sofre da síndrome do segundo CD que assola as raras bandas nacionais bem-sucedidas. Sabe aquela coisa de masterizar em Los Angeles e gastar três ou quatro vezes mais para produzir um trabalho inferior e sem inspiração— alguém ai se lembra do segundo dos Raimundos? Pois Anacrônico é um clássico exemplo disso. Debaixo do verniz novo temos o mesmo refogado de grunge rock do álbum anterior. Só que ainda mais datado.

É só checar os créditos do CD para descobrir que o mesmo foi produzido por Rafael Ramos. Aquele que foi VJ da MTV e era vocalista daquela bandinha execrável dos anos 90 Baba Cósmica, e que foi alçado a categoria de produtor designado do rock nacional depois da morte de Tom Capone. Rafael deve ser o único produtor de rock nacional nerd o suficiente para entender como o pro-tools funciona. Agora só precisa mudar de template. Pois todas as bandas nacionais estão começando a soar iguais e Pitty não é exceção.

Uma das maiores preocupações de Pitty parece ser com o tempo, quase todas suas letras trazem imagens referentes à passagem do mesmo. O próprio título do Cd deixa transparecer isso. Mesmo sendo jovem demais para se preocupar com isso, a roqueira baiana talvez não esteja totalmente errada. Já que depois desse Cd Pitty pegou o caminho mais curto para o esquecimento.

Pedro Camacho

Músicas:
1. A Saideira
2. Anacrônico
3. De Você
4. Memórias
5. Déjà Vu
6. Aahhh...!
7. Ignoring U
8. Brinquedo Torto
9. Na Sua Estante
10. No Escuro
11. Quem Vai Queimar?
12. Guerreiros São Guerreiros
13. Querer Depois