O pior Planeta de todos os tempos

O Planeta Atlântida 2000 ano foi um equívoco monumental. Um desses erros que faz a gente pensar: se o milênio já está   começando desse jeito vão ser só mais 999 anos de aporrinhação. Um horror. Não foi à toa que o público se mostrou inferior ao ano passado. Quem preferiu ficar em casa já estava antevendo o balaio de shows medíocres e canhestros que estava por vir. Como sói acontecer nestes casos, a culpa está na seleção pouco criteriosa dos artistas convidados a participar do festival. Juntaram bandas inexperientes e desinteressantes, com artistas em franca decadência já bastante conhecidos do público gaúcho. Sem contar que as principais atrações deste ano já tinham participado de edições anteriores do festival. O que garantiu um certo ar de déja vù a esse Planeta. Afinal de reprises já bastam os melhores momentos na televisão...

Além disso o festival teve problemas de organização. No primeiro dia, as bandas O Rappa e Charlie Brown Jr. ficaram presas em um engarrafamento na freeway. Isso causou um atraso de mais de uma hora no Planeta Atlântida. E o que é ainda pior, depois de tanto transtorno as bandas conseguiram chegar! Só para fazerem, sem a menor sombra de dúvida, os piores shows do Planeta Atlântida.

Mesmo assim quem deu uma de tio da Sukita e tentou encontrar uma ‘ninfestinha’(uma ninfeta a fim de festa) chegada em chupar um canudo de refrigerante tinha tudo para se dar bem. Exceto o fato dela dormir no meio de tanta música chata. Porém, chega de enrolação. Destemida e corajosamente a ZeroZen e este colunista enfrentaram esta maratona de shows para trazer o melhor e o pior dos dois dias do festival. Confira:

Primeiro Dia – 11/2/2000

1 - The Hard Working Band

Esses caras são um clone gaúcho da banda The Commitements, do filme de mesmo nome do diretor Alan Parker. O filme não fez sucesso, a banda idem. Mesmo assim o pessoal resolveu embarcar nessa canoa furada. É soul-music de plástico para gente que nunca escutou coisas como Soul Man (Sam & Dave), Respect (Aretha Franklin) ou Land of 1000 dances (Wilson Pickett). Show ideal para ir buscar cerveja no bar.

2 – Acústico & Valvulados

Impressionante a vontade e a disposição dessa banda. Entraram com a certeza que o público sabia todas as suas músicas de cor. Depois de uns dois "cantem comigo", "agora é com vocês" respondidos com silêncio total acabaram por cair na real. Uma apresentação apática e insossa que serviu para confirmar a tese que rock gaúcho decididamente não dá pé. Serviu apenas para aumentar o coeficiente alcoólico do público.

3 – Nenhum de Nós

Pela primeira vez o público do Planeta Atlântida teve alguma reação. O Nenhum de Nós cantou Camila, Camila (como sempre) e a galera vibrou. Infelizmente, eles tiveram a má idéia de tocar outras músicas. O público entendeu o recado e foi rumo ao bar. Aliás, diga-se de passagem, o show do Nenhum de Nós é a prova que Einsten acertou quando disse que o tempo é relativo: durou cerca de meia hora, mas parecia não terminar nunca...

4 – Ultraje a rigor

Que vergonha. Um dos maiores vexames do Planeta. O grupo comando Roger "nu com a mão no bolso" Moreira, preparou um set list de clássicos. Parecia que ia ser tudo muito fácil, mas não foi. Ninguém conhecia as músicas. Os adolescentes olhavam para o palco e perguntavam com uma expressão intrigada: "o que aquele tio está fazendo em cima do palco?". Pela primeira vez o Ultraje a Rigor deve ter percebido o óbvio: eles são uma banda morta e enterrada. O público tratou com uma indiferença precisa e justa o show do Ultraje. Dava para perceber o Roger pensando entre um solo e outro: "estou mesmo velho demais para essas coisas". O mais estranho é que alguém na produção do festival resolveu arranjar uma participação especial da banda Los Hermanos no show do Ultraje. Quando o que deveria ter acontecido era, justamente, o contrário. A platéia que permanecia letárgica e dispersiva durante a apresentação do Ultraje consagrou os Los Hermanos. Não é difícil entender o interesse do público gaúcho na apresentação da banda, afinal além do sucesso nacional da insuportável ‘Ana Julia’, eles nunca tinham se apresentado no Rio Grande do Sul! Ao contrário do Ultraje, que inclusive esteve recentemente no Estado. No final o Ultraje a Rigor terminou o festival sendo reconhecido como aquela banda que acompanhou os Los Hermanos...

5 – Los Hermanos

Seu único objetivo era fazer uma participação especial no show do Ultraje a Rigor e fazer tudo mundo cantar o mega-sucesso Ana Julia e ir embora. Foi o que eles fizeram. Se todos os shows fossem assim tudo seria bem mais simples. De certa forma, os Los Hermanos são a banda mais anacrônica do momento. Com o seu punk rock de corno descobriram o que Reginaldo Rossi já sabia há muito tempo.

6 - Charlie Brown Jr.

Não há por que negar: havia uma expectativa muito grande quanto ao show do Charlie Brown Jr. A banda paulista era conhecida por fazer apresentações viscerais ao vivo. Como Charlie Brown Jr. é um desastre em estúdio, tudo indicava um grande show. Mas o que se viu foi um vocalista ridículo (Chorão) tentando posar de morador do Bronx e uma banda que não toca nada ao vivo. Um dos piores shows de todo Planeta Atlântida. Charlie Brown Jr. é gente que faz errado. O vocalista Chorão ganhou fácil o prêmio de mala do Planeta. Alguém pode imaginar algo mais ridículo do que um skatista fazendo discursos políticos? Por que eles não ficaram na freeway?

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7 – Lulu Santos

O melhor show do Planeta Atlântida. Lulu Santos empolgou a platéia (depois do Charlie Brown Jr. isso é muito fácil) fez todo mundo cantar junto e mostrou por que é um do melhores guitarristas brasileiros. O final do show quando o público cantou Como uma Onda no Mar à capela foi perfeito. Só tem um problema: quando o Lulu Santos é o destaque de um festival algo está muito errado...

8 – Titãs

Desde o acústico que os Titãs vêm fazendo o mesmo disco, o mesmo show, a mesma turnê . Ninguém aguenta mais tanta auto-indulgência. A indústria fonográfica devia aposentar esses caras o mais rápido possível. O público do Planeta simplesmente ignorou os Titãs e resolveu se dedicar ao consumo do bom e velho goró.

9 – Ivete Sangalo

Poxa, mas que coxas! E foi só isso. A musa da axé-music tentou levantar (no bom sentido) o público, mas não deu. Culpa do repertório do disco-solo de Ivete que é muito ruim. O destaque do show ficou por conta da minissaia que Ivete Sangalo usou. Dava para ver todo o carisma da cantora, se é que vocês me entendem...

10 - O Rappa

Um show para mandar todo mundo embora mais cedo. Um horror. Primeiro, O Rappa não toca nada ao vivo. É uma bandinha de estúdio e olhe lá. É mais uma invenção de carioca que acabou sendo desmascarada. O show teve problemas com o som, o que de certa forma pode servir como desculpa para a ruindade sonora do grupo. O Rappa ainda contou com desastrada participação do DJ Metralha para dar aquele toque de "mudernidade" no show. Se eles tocassem mais 10 minutos além do tempo programado o show acabaria por falta de público

Segundo Dia – 12/2/2000

1 - Comunidade Nin-Jitsu

Mais uma banda gaúcha que também não. A comunidade ficou relativamente famosa pelo seu quase sucesso Detetive uma das músicas mais infames de que se tem notícia. Depois de o vocalista pular feito um boneco de mola pelo palco a banda sumiu sem deixar vestígios. Era um caso típico de enquadrar os componentes do grupo em alguma lei de proteção ao consumidor.

2 – Tribo de Jah

Que as chamas da destruição fulminem esta banda. Que caras chatos. Reggae é música de preguiçosos para preguiçosos. E Jah que não deu para trazer o Cidade Negra trouxeram este cover mal-ajambrado. Aliás, quando terminou o show ficou a impressão que Jah vai tarde, Jah era, Jah para fora do palco, Jah para fora do planeta...

3 – Pato Fu

Um dos grandes problemas do show do Pato Fu é que a vocalista Fernanda Takai não canta nada, ou se canta ninguém consegue ouvir. O show foi arrastado e chato, culpa do repertório do péssimo Isopor, o disco atual do Pato Fu, que é uma das piores coisas jamais feitas no rock nacional.

4 – Wilsom Sideral

Quem? O quê? Como? Um caso de nepotismo planetário. Wilsom Sideral é o irmão de Rogério Flausino vocalista do J. Quest. Sideral deveria ter sido convidado para o backstage não para o palco principal . O show foi lamentável e deprimente. O destaque negativo ficou com a versão de Metamorfose Ambulante de Raul Seixas

5 – Paralamas do Sucesso

Um show competente como sempre. Para variar os Paralamas insistem em dar ênfase nos instrumentos de sopro. Era tanto vento no palco que o grupo podia mudar seu nome para os Páraquedas do Sucesso. Considerando os demais shows do Planeta Atlântida até que eles não foram tão mal.

6 - Djavan

Ganha com certeza o troféu perdido no espaço. Quem será que foi o gênio que teve a idéia de contratar esse cara? Djavan não tinha nada para fazer no Planeta Atlântida a não ganhar o seu chachê. Foi o que ele fez. Um show que, literalmente, ninguém sabe, ninguém viu. Se não tivesse passado nos melhores momentos na televisão ninguém acreditaria.

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7 – Raimundos

Simples, direto e eficiente. Um show correto dos Raimundos. Eles surgiram fazendo um interessante forró-core, depois viraram metaleiros desandaram a fazer um disco mais chato que o outro durante os anos 90 (até mesmo um equivocado disco de natal). Finalmente, depois que as vendas despencaram resolveram fazer um rock básico sem frescuras. O engraçado é que a banda critica os pagodeiros, posa de alternativa e aparece todo o domingo do Planeta Xuxa. Coerência que é bom...

8 – Men At Work

Um cheiro de mofo e naftalina. Uma visão de Jurassic Park. Parecia uma daquelas matérias do Vídeo Show que começa com a frase: "direto do túnel do tempo". Lamentável, lamentável. Men At Work no palco e Men at the bar na platéia.

9 – Pimenta Nativa

O quê? Quem? Como? Uma piada sem graça para fechar o Planeta. Chamar de pimenta uma banda insossa e sem empolgação como essa só pode ser coisa de baiano. O vocalista insistia em dizer: "tira o pé do chão, galera!". Foi o que a maioria do público fez. Tirou o pé do chão, pôs na cama e foi dormir

10 - J. Quest

A atração-supresa. A banda que ninguém (hahaha) esperava. Se houve algo de inédito foi a curta duração do show do J. Quest. Aliás, esse foi, sem dúvida, o maior mérito do show. Provavelmente eles vieram ao Planeta desse ano para buscar de volta Wilson Sideral, que sequer deve ter recebido o dinheiro da passagem de volta.

J. Tavares