Sob o signo de Carlinhos Brown

O público não parava de gritar: Ah! Eu sou gaúcho! Tirando o bairrismo de lado, a coisa parecia estar mais para festival nativista do que show de rock. A última noite do Planeta Atlântida deixou a dúvida: se a verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul. O verdadeiro Rio Grande do Sul é o Rio Janeiro? Afinal depois que a platéia do Planeta ingenuamente aplaudiu Carlinhos Brown, melhor pedir asilo em Cuba.

Dia 10 - Sábado

Kleiton & Kledir - Um cheiro nauseabundo de catacumbas ancestrais infestou o Planeta. Kleiton & Kledir não passam de uma curiosidade antropológica para nova geração. Para piorar as coisas escolheram um repertório equivocado e sonolento. Chegaram a tocar uma cover dos Beatles Hello Godbye, do disco Magical Mistery Tour. Como eram a atração menos importante tiveram problemas no som. A platéia ignorou os sucessos (?) Tô Que Tô e Vira Virou. Porém o pior estava para vir. O escritor Luis Fernando Verissimo, com seu sax, subiu no palco para tocar junto com Kleiton e Kledir Deu Pra Ti. O público gritava Deu pra Eles. Pelo menos o show durou pouco.

Natiruts - Cada vez fica mais claro que o sucesso da banda se deve a performance da vocalista e enfeite de palco Izabella. Falta mais uma gostosa na banda e alguém para imitar o compadre Washington. Mas se seguirem o caminho certo, esses caras vão vender milhares de discos. Detalhe: Izabella passou o show inteiro com uma touca rastafari na cabeça, o que diminui imensamente a qualidade do show.

Engenheiros do Hawaii(com Paulo Ricardo) – Passou desapercebido no Rock In Rio, mas aqui ficou claro: Humberto Gessinger está visivelmente apaixonado pelo Paulo Ricardo. Talvez seja algo platônico, mas de qualquer forma é uma coisa extremamente gay. O show dos dois no Planeta foi uma espécie de lua de mel. Eles bem que poderiam ter ido para um motel e poupado a platéia de mais essa.

Carlinhos Brown – Com uma platéia de jovens ingênuos e incrédulos, que aplaudiam qualquer coisa e desconheciam a maldição por trás dessa figura cabalística, Brown pode fazer seu show. E tipo só confirmou o que todo mundo já sabia: Brown é um embuste de proporções apocalípticas. Vai levar décadas, até mesmo séculos para que a MPB se livre da sua influência nefasta. A platéia do Planeta decepcionou. Quem foi esperto e resolveu ficar no bar ou nos planetas temáticos ainda tem alguma esperança. O resto está condenado as trevas, principalmente as ninfetas que estavam na frente do palco e não paravam de pedir água mineral. É a prova cabal que essa geração está perdida. Atenção pais: se o seu filho nessa idade aplaudiu Carlinhos Brown, imagine o que ele pode fazer no futuro? Não pense duas vezes é hora de deserdar o pentelho...

Lulu Santos – A diva Lulu fez um show chato e equivocado, que serviu apenas para provar que shows baseados em programas acústicos da MTV realmente não funcionam em grandes públicos. Com um inacreditável cabelo caju, Lulu Santos merece com honras o troféu roscão do festival. Curiosamente o público pediu água no meio do show. Era para um recado para o pessoal da organização e dar um jato de água no público. Lulu interrompeu o show e foi no camarim buscar umas 7 ou 8 garrafas de água mineral!!! Ele jogou para a galera! Quer dizer matar a sede de 45 mil pessoas com 8 garrafinhas?! Ah, eu tô maluco! Detalhe: na seqüência o público gritou mangueira, mangueira, e a diva entendeu errado de novo...

Jota Quest – O Jota Quest é a maior banda de baile do Brasil. E isso não é um elogio. Fizeram covers de O Rappa e Chico Science e é claro Paralamas. Alguém podia avisar que o momento pokemon, quando o Rogério Flausino brinca de raio laser humano, é um dos momentos mais patéticos e ridículos já visto num show nacional. Aliás, Flausino é um dos maiores puxa-sacos da atualidade. Rasgou elogios para organização do planeta (provavelmente porque deixou um palco cair em SC e teve sorte de não matar ninguém), para as bandas gaúchas, para o público do festival, etc, etc. Só faltou elogiar a Fanta que está pagando o seu cachê.

Raimundos – Mais chato do que de costume. Os Raimundos só conseguiram empolgar o público com sucessos do seu último álbum. O que mostra que a memória e a faixa etária do planeta diminuem a cada ano. O baixista Caniço não veio para o show e foi substituído por um amigo da banda. Segundo disseram ele teve que fazer uma operação no joelho. Na verdade resolveu inventar essa desculpa, pois estava com medo da Maldição de Carlinhos Brown.

Capital Inicial – Mais um show semi-acústico. Mais uma banda natimorta dos anos 80 a ressurgir pelas mãos da MTV, com a ajuda de programadores de rádio FM acéfalos. Fizeram o mesmíssimo show do Rock In Rio. Gozado que Skank, O Rappa, Charlie Brown, Raimundos e outros que ficaram fora do RIR, não falaram nada sobre a atitude topa tudo por dinheiro do pessoal dos anos 80 que os substituíram no festival. É como diz o ditado: o pior cego é aquele que já viu...O mais deprimente é o vocalista Dinho dizer que não quer ser tratado como mais um pedaço de carne. Então tá. Mas para tirar a camisa e fazer poses de galã da novela das oito ele não paga imposto. Mesmo assim, apesar da histeria de alguns fetos, o público em geral não deu muita bola para o show. No final uma versão de Wonderwall do Oasis. O inacreditável é descobrir que existe alguém que canta pior que o Liam Gallagher.

Papas da Língua – Legal isso, a zelosa organização do festival pensando em evitar engarrafamentos na saída do evento resolveu colocar duas bandas gaúchas para fechar a noite. Assim boa parte do público, já bastante cansado, foi tirando o time de campo mais cedo. O Papas na Língua fez um show na medida de suas possibilidade, que são obviamente mínimas. Tipo de banda ideal para ouvintes da rádio Atlântida FM e pessoas sem gosto musical algum. Aliás, o que dizer de uma banda cuja melhor música é um jingle publicitário?

Comunidade Nin-Jitsu – Uma das piores bandas gaúchas de todos os tempos. E isso não é pouco se analisarmos a concorrência. Uma curiosidade: esses caras tem um verdadeiro fã-clube de mocréias. Nunca se viu tanta mulher feia cantando gritando por uma banda. Considerando a qualidade das músicas até que isso faz sentido.

Last but not least

Como o Planeta a cada edição tem que dar mais público, este ano o número final ficou entre 102 mil pessoas.O problema é que foi divulgado que tinham sido 45 mil pessoas na sexta-feira. E em uma entrevista da TVCOM com o Renato Sirotsky, organizador do evento,  garantiu que sábado o público era de 54 mil pessoas. Faça as contas. 45+54= 99 mil. Menos que o divulgado no ano passado quando o público do festival bateu na casa dos 100 mil.

Dois minutos depois a TVCOM divulga o público das duas noites como 110 mil pessoas. Ridículo!!! Tá certo que o pessoal de TV não é muito brilhante, mas... Mais legal ainda passou uns 15 minutos e vem a correção da TVCOM. Público total: 100 mil. O problema que ai não seria recorde.

Então seu Sirotsky voltou atrás, fez os cálculos de novo e concluiu que existiam 55 mil no sábado e, sabe lá Deus como, 47 mil no sábado. Resultado? 102 mil...

Como diria o Ritchie a vida tem dessas coisas...

Da reportagem local