1999 – O Ano em que caçaram nossos níqueis

Música
Reginaldo Rossi, Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Elba Ramalho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Sandy & Junior, Leonardo, Zeca Pagodinho, Cheiro de Amor, Raça Negra, Milionário e Zé Rico, Djavan, Guns’n’Roses, Beastie Boys, Marilyn Manson, Alanis Morissette.

A lista é variada e não acaba aqui. Mas o que teria esses artistas em comum, poderá perguntar o incauto leitor?

Simples. Todos, sem exceção, lançaram coletâneas no ano de 1999, quer em forma de discos ao vivo, registros acústicos, ou nas manjadas compilações de grandes sucessos. Se você queria novidades terá que esperar o próximo milênio.

Diga-se de passagem o Brasil deve ser o único país no mundo no qual os artistas saem em turnês para promover discos ao vivo! O que é um verdadeiro contra-senso.

A tônica desse ano foi o tédio— não por acaso algumas bandas andaram se inspirando nos anos 80— e a repetição de formulas já gastas. Foi o ano em que caçaram o nossos níqueis sem piedade. Na verdade o emprego do termo "caça-níqueis" para definir lançamentos de produção barata e sucesso comercial garantido é errôneo, pois nas verdadeiras máquinas caça-níqueis ainda existe a ínfima chance de se ganhar alguma coisa. Já na maioria dos lançamentos musicais desse ano...

1999 também foi o que os críticos musicais costumam chamar de ano de transição, para justificar o fato que nada realmente de interessante aconteceu, e acalentar a esperança de que vai acontecer alguma coisa que justifique os seus salários no ano que vem.

Confira como alguns gêneros musicais se sobressaíram em 1999:

Rock nacional – na mesma, para pior
Tivemos o Revival das bandas dos anos 80 (argh!!!!!!!!!!). Gente como Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Plebe Rude e outros menos votados foram os grandes vencedores do troféu naftalina ou a volta dos mortos-vivos. A grande novidade(sic) ficou por conta do Los Hermanos (uma espécie de hardcore melódico com letras de corno) emplacaram a chatíssima Ana Júlia.

O Legião Urbana provou que nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não. Vendeu 800 mil cópias em apenas três semanas de um acústico gravado em 1992. O Pato Fu cometeu o chatíssimo Isopor, pior disco de sua nem tão relevante carreira. A banda santista Charlie Brown Jr. estourou (o saco e paciência do ouvinte) em todo o país. Já o J. Quest em um evidente caso de nepotismo resolveu empregar nas paradas de sucesso o irmão do vocalista. Um sujeito esquisitão com nome de Wilson Sideral. Hum... A gente poderia ter passado sem mais essa.

Já cena de punk rock nacional tem crescido assustadoramente, pipocam bandas nas mais variadas cidades do país. Vivendo a margem das grandes gravadoras, num esquema independente e amador, estas bandas têm em comum apenas a mediocridade e o insucesso. A maioria insiste em cantar num inglês ininteligível, na doce ilusão que algum dia alguém lá fora vai prestar atenção nas bobagens que cantam.

Axé-Music – em baixa
Ivete Sangalo deve estar sofrendo de algum problema emocional sério, em seu último vídeo ela aparece vestida com roupas de inverno(?!). Ora, todo mundo sabe que moda inverno/verão da Bahia é fio dental. Além disso no auge do seu descompasso mental namorou com o duble de apresentador, picareta de plantão, e atualmente banco de reserva da Globo Luciano Huck.

As bandas mais representativas do Axé como É o Tchan, Araketu , Cheiro de Amor e Banda Beijo não apresentaram novidades em 1999( e quando foi que elas apresentaram?). Em 99 o melhor momento da Axé Music se deu fora dos palcos, mais exatamente na Playboy que mostrava as duas dançarinas do Tchan peladas na Amazônia. Aliás, uma revista de fofoca afirmou que o Compadre Washington estaria namorando a Scheila Carvalho, a morena do É o Tchan. Esta impoluta revista aposta todas as suas fichas que o próximo cd do grupo vai se chamar: É o Tchan em love...

Hip-Hop – em alta, com tendência a cair
O hip-hop está nas paradas. Tá ligado, mano? Se você curte aquele palavreado enorme e interminável e aquela choradeira sem fim, do tipo excluídos pelo sistema, teve sorte. Em 1999 o Hip-Hop se tornou a música preferida de boyzinhos revoltados com o mundo a sociedade e principalmente com a mesada de seus pais. Ano passado também apareceram as famosas camisetas com os dizeres: 100% negro. Não deixa de ser uma espécie de racismo às avessas. A ZeroZen vai lançar na sua griffe uma camiseta onde vai estar escrito: 100% branco (não vou a praia e só vivo na Internet).

Pagode – em alta
Não teve para ninguém o pagode dominou 1999 de ponta a ponta. Basta ver por uma recente pesquisa, publicada na maioria dos jornais brasileiros, que continha as músicas mais tocadas nas rádios no ano passado. O predomínio do pagode foi total.

Aliás, se for feita uma análise séria sobre a música popular brasileira nessa década de 90, o estilo que comandou a festa foi justamente o discriminado pagode. Portanto, gente como Os Travessos, Negritude Jr., Grupo Molejo, Raça Negra, Cia do Pagode e outros tantos assemelhados provaram, infelizmente, que vieram para ficar.

O pagode lembra o esquete cômico do SNL, dos saudosos tempos do John Belushi: The Thing that won’t leave.

Cinema
Terrível, tenebroso, sombrio e sem esperanças. Assim foi o cinema em 1999. Parece que hoje Hollywood é capaz de filmar qualquer cena, estando limitada somente à criatividade dos roteiristas. Pena que já não se fazem mais roteiros como antigamente há 30 anos. O que resta para os executivos de Hollywood é torrar milhares de dólares em produções de gosto para lá de duvidoso. Aqui está lista dos piores do ano:

The Blair Witch Project - A Bruxa de Blair
É esse, é esse. O pior filme de 1999. Sem sombras de dúvidas um campeão indiscutível. Um falso documentário sobre jovens que se perdem na floresta, que foi vendido na Internerd como se fosse verdadeiro... Difícil de acreditar, não é? Pois os americanos engoliram tudo direito e transformar um OCNI (Objeto Cinematográfico Não-Identificado) no filme independente mais rentável da história do cinema. Que final de século...

Matrix
Como torrar dinheiro em 12 lições. Matrix é um besteirol pseudo-científico que não vai a lugar nenhum. É de dar pena. Um filme indicado for losers only. Só quem não tem mais nada a fazer vai ficar preocupado com a instigante questão de o que é Matrix afinal?

Sexto Sentido
Uma incrível picaretagem muito bem-sucedida. Um filme que vive única e exclusivamente em função do seu final. Por isso várias pessoas iam assistir Sexto Sentido mais de uma vez só para confirmar se a história fazia (sem trocadilho) sentido ou não. O personagem do filme costuma dizer: "I see dead people". Já a ZeroZen a revista que não tem medo de fantasma afirma: "I see dead movie"

Ameaça Fantasma
Um show de marketing, para um filme medíocre. O merchandising em Ameaça Fantasma foi tanto que dava para ver escrito na janela de uma das naves pilotadas pelo jovem Luke Skywalker: "Faço Frete". Além disso George"preciso me lembrar como dirigir um filme"Lucas se superou e inventou a maior aberração criada por computação gráfica dos últimos tempos: Jar-Jar Binks. Mas o pior mesmo é que essa bobagem ainda vai ter mais duas partes...

Troféu Tarantino Wanna Bees
Go (Doug Liman)
Jogos, trapaças e dois canos fumegantes (Guy Ritchie)
De caso com acaso(Peter Howitt)

Troféu Desgraça pouca é bobagem
Tempestade de Gelo(Ang Lee)

Prêmios Especiais do tipo 'o importante é competir'

Troféu Bug do Milênio
Bundas (uma revista perdida no túnel do tempo com seu humor carioca, babaca, pseudo e anacrônico). Que conseguiu no mínimo dois prodígios: colocar o mala da década Gabriel O Pescador na capa de uma de suas edições para uma entrevista bajuladora; e abrir espaço para UNE( União Nacional dos Estudantes)— espectro do movimento estudantil que hoje em dia, nada mais é que um covil eleitoreiro do PC do B— publicar um dos seus patéticos manifestos contra o claudicante governo FHC.

Troféu Playboy do Milênio
Nada de Velha Fischer, muito menos Tiazinha ou Feiticeira. As grandes vitoriosas de 1999 são Taís e Fabiana, as hzetes. Afinal, melhor do que uma loira só duas. E as suas fotos são um exemplo de ensaio do povo, pelo povo e para o povo.

Troféu Ah! Eu tô maluco
Esse vai para Tom Zé, compositor e atração de freak show, que num ato totalmente tresloucado e infantil rasgou algumas notas de dólares num vídeo clip e em aparições na televisão. O cara deve estar cagando dinheiro. Se tivesse feito isso nos EUA, onde esse ato teria alguma relevância, seria preso e nunca mais entraria naquele país outra vez. Mas aqui...

Troféu Light My Fire

Woodstock 99, a terceira edição desse festival, agora em Rome EUA, só poderia acabar em fogo mesmo. Roma, fogo. Entenderam?

Loser do ano
Luciano Huck, com certeza. Esse é gente que faz... errado. O rapaz é um fenômeno. Conseguiu perder a Eliana, a Tiazinha, a Feiticeira e a musa-axé Ivete Sangalo. Vai ser incompetente assim no diabo que te carregue. Como se não bastasse ele ainda perdeu o seu programa, pois a Globo colocou ele no gelo por um bom tempo.

Quadrinhos
O sonho acabou. Depois de anos acompanhando séries fundamentais como Preacher, Hitman e HellBlazer a Atitude, editora destes títulos, terminou suas atividades. Com a tradicional cara-de-pau dos editores de HQ no Brasil, eles suspenderam até mesmo a publicação de minisséries já iniciadas. Desta maneira, por exemplo, o fantástico Hard Boiled – À queima roupa, de Frank Miller e Geof Darrow, foi interrompido na edição nº 2, e ficou por isso mesmo. O público brasileiro que se dane. Outras séries como Vampirella tiveram o mesmo infeliz destino.

Tudo isso aconteceu por que a Metal Pesado, que publicava as edições da revista Heavy Metal no Brasil, resolveu trocar de nome e arranjar algo mais criativo. Surgiu então a TEQ - Tudo em Quadrinhos (outro nome para lá de inovador). Até aí tudo bem. Os caras tinham dinheiro em caixa, mas muito pouca inteligência e resolveram fazer que nem o ex-presidente Juscelino Kubitschek: 50 anos em 5. Imaginem que leitor seria capaz de desembolsar quase R$ 35,00 para acompanhar a enorme quantidade de títulos que a TEQ largava no mercado.

Resultado as vendas não foram como o esperado e a Tudo em Quadrinhos se viu mal na foto. A solução seria vender o que restava para escapar dos credores. Neste momento surgiu a Fractal edições, aquela mesma do picareta-mor, Otávio Mesquita, que também edita a Revista Sexy, afirmando que ia comprar a TEQ e continuaria a distribuição dos títulos. Surgiu então a editora Atitude e tudo parecia normal. Entretanto, quando o pessoal da Atitude foi ver o balanço da Tudo em Quadrinhos descobriu que ao contrário do que se imaginava eles não vendiam 35 mil revistas por mês, mas sim 5 mil. Sendo assim, nada feito. O negócio foi desfeito e o leitor fiel de Preacher perdeu tudo de uma hora para outra.

Obs: Esta versão dos fatos é extra-oficial, mas ninguém se atreveu a desmenti-la. E só a ZeroZen teve coragem de publicá-la.

De qualquer forma, 1999 ainda reservou algumas boas supresas. Vamos a elas:

Melhor Revista

Bone

Pior Revista

Spawn e A maldição de Spawn em empate técnico

Melhor Saga

Terremoto – Batman

Melhor Minissérie inacabada

Hard Boiled- À queima roupa

Pior revista metida a alternativa

Menz Insana

Musas

Witchblade e Lara Croft

Troféu Será que esses não voltam mais?

Preacher, Hellblazer e Vampirella

Da Equipe de Articulistas