Video Music Brasil 2003

O VMB, a maior festa da música corporativa brasileira, é prova cabal do porquê nossas corporações não dão certo. Afinal como uma produção que envolve mais 700 pessoas, possui três dias de ensaios, pelo menos uns três meses de preparação, mais de 4 mil convidados, 7 shows e custos totais na casa dos R$ 6 milhões, consegue resultar num espetáculo tão capenga e insatisfatório? Onde, aparentemente, a grande aspiração de todos envolvidos é conseguir uma janela no Jornal Hoje da Globo?

Como em emissora que não dá lucro não se mexe o VMB 2003 foi uma reprise do ano passado, as mesmas situações sem graça ou fundamento, costuradas por um texto de um amadorismo universitário. Isso na hipótese otimista de que alguém na direção da emissora tenha cursado uma faculdade.

Com a VJ Fernanda Lima outra vez no comando da apresentação, o VMB foi pontuado, como de costume, por participações de figuras alienígenas à programação da emissora. Dedé Santana, Sônia Braga , Ana Maria Braga, Selton Mello e Débora Falabella foram alguns dos incautos que compareceram na festa. Gente que numa situação normal não passaria nem pela frente da emissora. Por que a MTV insiste em chamar atores globais, jogadores de futebol e outros desqualificados para fazer papel de ridículo frente uma platéia de convidados é um mistério. Talvez o pessoal da emissora acredite que agindo dessa forma algum dia consiga aqueles tão sonhados 30 segundos no Jornal Hoje da Globo. Mas até o momento esta estratégia tem falhado redondamente.

No fundo o VMB é como eleição americana, em que o público tem que escolher entre o “menos pior” e ainda existe uma grande chance de que esteja sendo enganado no resultado final. Pois vejam vocês a seleção dos videoclipes inscritos é feita por um equipe formada por diretores e gerentes da MTV Brasil. Em essência essa pré-seleção significa que todo artista de grande gravadora que pagou jabá para emissora deve ser nominado para alguma coisa. Assim no final tem-se um total de 49 clipes inscritos, quando é bem possível que nem a metade dos concorrentes tocaram em rádio ou mesmo tiveram grande circulação na própria MTV.

A bem da verdade a MTV Brasil passa por um momento peculiar de sua breve e quase sempre irrelevante existência. Com a decisão, no início do ano, da Abril Music, uma das maiores fontes de jabá, digo renda da emissora, de fechar suas portas, a MTV se viu sem um grande contingente de artistas para puxar o saco. A solução da emissora foi no mínimo curiosa, para não dizer bizarra: alçar seus VJ's a condição de estrelas. Sério. A MTV na falta de quem puxar o saco resolveu puxar o saco de si mesma!!!

Mas vamos deixar uma coisa bem clara para os executivos de frauda da emissora: VJ é uma cabeça falante de preferência num corpo feminino; VJ não tem que dar opinião; VJ não é artista; VJ não é gente. É uma coisa qualquer ainda não catalogada pela ciência. Está aí o Rafael para comprovar essa teoria.

Não é preciso consultar o livro sagrado das generalizações para saber que ninguém quer saber o que ouve, assiste ou pensa um VJ. Como no inacreditável programa especial sobre os Beatles veiculado esse ano, onde cada VJ teceu comentários de suma relevância sobre a importância do quarteto de Liverpool na vida ‘deles’. Muito menos o que ouve, pensa ou assiste o pessoal que trabalha na MTV. Notem que o perfil dos escassos telespectadores da MTV é de jovens entre 15 e 29 anos, das classes A e B. O que obviamente representa um indicativo de um público mais elitizado. Gente que supostamente tem facilidade de acesso a informação e em fontes muito mais confiáveis do que a MTV. Logo querer doutrinar essa gente é perda de tempo.

Será que em 13 anos a emissora ainda não aprendeu nada? Pensando bem esses são os mesmos caras que alguns anos atrás que chegaram a brilhante conclusão de que o público da MTV, aquele mesmo de classes A e B, queria ver nas tardes de domingo eram programas de auditório? Ou que para alcançar aquele ¾ de traço de audiência a MTV tem que copiar programas da TV aberta. Enfim, no maravilhoso mundo bizarro da emissora isso deve fazer algum sentido.

Curtas

* A transmissão do VMB deste ano teve um pré show comandado por Cazé e pela VJ Sarah e um pós show comandado por Edgar e Rafael. O pré show foi um fiasco: Cazé, o maior mala sem alça que a emissora já produziu, depois do Marcos Mion é claro, convidava os vips que chegavam para cheirar hélio?!!! De quem foi essa idéia? Qual a lógica disso? Já o pós show foi um fiasco maior com a dupla de incompetentes deslumbrados Edgar e Rafael extrapolando todos os vetores da incomunicabilidade.

* VJ Fernanda Lima repetiu o seu papel de bibelô falante do ano passado, tornando-se assim a primeira pessoa a apresentar dois VMBs seguidos. Do que se conclui: que sua carreira como modelo/manequim está definitivamente acabada. E que seu próximo passo é se juntar a Astride Fontanelle na Band e ficar fazendo fofoca dos semi-ricos e semi-famosos.

* Marcelo D2 foi o grande vencedor da noite levando para casa três prêmios. Isso se levarmos em conta que seu álbum não vendeu bulhufas, suas músicas não tocam na rádio e seu clipe não passa em alta rotação na MTV. Isso deve fazer algum sentido no maravilhoso mundo bizarro da MTV.

* Sonia Braga que veio para o VMB direto de uma festa de botox e apresentou ao lado de Júnior, o irmão menos esperto da Sandy, o prêmio de melhor videoclipe internacional, vencido pelos insuportáveis Link Park. A dupla protagonizou um dos momentos mais constrangedores da noite. Sabe-se lá por quê, talvez inspirada por Supla que tinha simulado beijar Ana Maria Braga no início da noite, Sonia Braga achou que era hora da terceira idade mostrar o seu valor e resolveu beijar Júnior também. Um Júnior visivelmente constrangido mal pode disfarçar sua falta de interesse no assunto.

* É meio suspeito que o Charlie Brown Jr, um dos maiores vencedores da noite levando os prêmios de melhor videoclipe segundo a audiência e Melhor Videoclipe de Rock, por "Papo Reto", que é basicamente uma releitura de “Proibida para mim” numa versão sociopata, seja protagonista de uma campanha publicitária de um dos maiores patrocinadores do evento, a Coca-Cola. Com direito a chamada obrigatória a cada intervalo.

* Outros patrocinadores como a Kaiser, a pior cerveja do Brasil, e a Nokia também veicularam comerciais criados exclusivamente para o ‘público MTV’. A julgar pela qualidade das campanhas, as agências publicitárias envolvidas devem imaginar que o púbico da MTV seja formado por débeis mentais. O que não está longe de ser verdade...

* Já está ficando chato o João Gordo ganhar todo ano alguma coisa. Esse ano sua banda fantasma levou o prêmio de "melhor clip independente", antigo democlip. Pensando bem ainda é melhor do que premiar os também “prata da casa” e infinitamente piores Forgotten Boys...

* Caetano Veloso, em mais uma daquelas tiradas geniais do pessoal da MTV, entrou no palco com uma barba postiça para chamar o show dos Los Hermanos. No entanto muita gente pensou que Caetano estava na verdade fazendo uma homenagem à Osama Bin Laden ou ao grupo americano ZZ Top.

* Frejat representante maior do rock corporativo brasileiro resolveu se apresentar acompanhado de 5 guitarras. Seguindo a máxima do VMB quando maior a produção menor o resultado...

* Merecidamente, mais uma vez o Capital Inicial não ganhou porra nenhuma !!!

* O guitarrista da Pitty resolveu dar uma de Pete Townshend e jogar a guitarra no chão ao fim da música, talvez para acordar a platéia, já que ninguém estava prestando muita atenção na performance da banda. Mais interessada nos atributos físicos da baianinha Pitty. Diga-se de passagem o cara tocou o tempo inteiro desafinado.

* O DJ Patife ao receber o prêmio de melhor videoclipe de música eletrônica resolveu fazer um discurso longo e esdrúxulo que ninguém entendeu ou prestou muita atenção. Fernanda Lima resolveu exercer sua porção gaúcha e cortou o barato do DJ sem maiores explicações fazendo alusões ao "tempo de tv". Como se a MTV tivesse esse tipo de preocupação.

* O bichinho da goiaba e coisinha mordedora Penelope Nova foi o único VJ que não trabalhou na festa.

* O rapper Sabotage, morto em janeiro deste ano, foi homenageado por quase todo mundo, João Gordo e Marcelo D2 entre outros dedicaram seus prêmios ao rapper. Interessante notar que no ano passado ninguém fez o mesmo para cantora Cásia Eller. Vai ver que o pessoal da MPB uísque e purpurina não é chegado nesse tipo de coisa. Respeito é para quem tem como diria os manos...

* Preta Gil foi receber o prêmio chapa branca de "Melhor Vídeo Clip de MPB" para o seu pai, o músico e ministro Gilberto Gil, por "Three Little Birds". Preta além de promover seu disco aproveitou para dizer que “papai está vendo esse prêmio em casa”, para se corrigir logo depois “em casa lá em Brasília”. Até parece que Gil na condição de Ministro da Cultura e a Civilização danem-se elas ou não, iria se meter numa furada como o VMB.

* Também é interessante notar que o prêmio de MPB tenha sido dado para um cover de Bob Marley. É bom lembrar que essa não era uma categoria técnica, logo em tese não é a qualidade do clipe que conta. Até porque vídeo de massinha é a coisa mais batida que existe. Literalmente.

Da Equipe de Articulistas
Colaborou Augusto Pedrone.

Confira quem foram os vencedores:

Categorias da audiência

Melhor Videoclipe Pop
- Skank ("Dois Rios")

Melhor Videoclipe de Rock
- Charlie Brown Jr. ("Só Por Uma Noite")

Melhor Videoclipe de MPB
- Gilberto Gil ("Three Little Birds")

Melhor Videoclipe de RAP
- Marcelo D2 ("Qual É")

Melhor Videoclipe de Música Eletrônica
- Fernanda Porto e DJ Patife ("Sambassim" - DJ Patife)

Melhor Videoclipe Banda/Artista Revelação
- Detonautas Roque Clube ("Quando O Sol Se For")

Melhor Videoclipe Independente
- Ratos de Porão ("Próximo Alvo")

Melhor Videoclipe segundo a audiência
- Charlie Brown Jr. ("Papo Reto" - Prazer é Sexo O Resto é Negócio)

Melhor Videoclipe Internacional
- Linkin Park ("Somewhere I Belong")

Categorias do júri oficial

Melhor Edição de Videoclipe
- Pato Fu ("Não Mais")
Editor: Brokolis Do Brasil

Melhor Fotografia em Videoclipe
- Sepultura ("Bullet The Blue Sky")
Diretor de fotografia: Ricardo Della Rosa/João Itaboraí

Melhor Direção de Arte em Videoclipe
- Gilberto Gil ("Three Little Birds")
Diretores de arte: Gualter Pupo e Flávio Mac

Melhor Direção de Videoclipe
- Marcelo D2 ("Qual É")
Diretor: Johnny Araújo

Melhor Videoclipe do Ano
- Marcelo D2 ("Qual É")
Diretor: Johnny Araújo

Melhor website
- Nando Reis
Webmaster: Jaime Cavalcanti Neto, Bruno Hamzagic de Carvalho e Raphael Hamzagic de Carvalho