Para o TSE o voto não passa de uma doença?

A Agência W/Brasil criou quatro filmes de conscientização para as eleições. O pedido foi do próprio Tribunal Superior Eleitoral.

Na primeira fase, com os comerciais "Cometa" e "Carro", a campanha tentava estabelecer, por meio de analogias, o seguinte conceito: perder uma oportunidade pode fazer o eleitor perder muito tempo. Ou seja, quando se deixa escapar a oportunidade de escolher um bom candidato, você faz com que a sua cidade passe quatro anos miseráveis e tristonhos.

Os primeiros comerciais eram apenas equivocados. Pois o erro do eleitor era sempre provocado por uma desatenção. Nunca por uma escolha errada. O fracasso era mais culpa do acaso do que qualquer outra coisa. E o acaso nada tem a ver com o resultado das eleições.

Porém, o colendo Tribunal não se deu por satisfeito e veiculou quatro novos filmes da segunda fase da campanha: "Abelha", "Sapateado", "Círculos" e "Emoções". A idéia dos comerciais seria justamente evoluir um pouco em cima do conceito da primeira fase e voltar a bater na tecla de que quatro anos demoram muito a passsar, principalmente quando as coisas não vão bem.

Só que o resultado final é um desastre digno de figurar neste obituário. A campanha tem criação de Marcelo Conde e Eiji Kozaka e direção de criação de Rui Branquinho. Os filmes foram produzidos pela Zeppelin, com direção de Marcello Lima.

Vamos começar analisando o comercial da abelha. Nelem, um trabalhador chamado Mário (mas que Mário?) reclama que tem uma abelha dentro do ouvido. O bicho ficou lá durante quatro anos. Depois de quase enlouquecer, o Mário hoje cuida bem dela, alimenta com mel e por aí vai...

O ridículo e o inusitado prosseguem no filme "Sapateado". Ele conta a história de um homem que tem um problema um pouco chato: há quatro anos, toda vez que fica nervoso, ele sapateia involuntariamente. O comercial mostra o desespero de conviver com um problema como este durante tanto tempo, salientando: "Quatro anos é muito tempo. Principalmente quando as coisas não vão bem".

Perceberam qual é o erro da propaganda? Não? Vamos adiante, então. Ainda existe o inacreditável comercial "Círculos" o qual mostra uma mulher que há quatro anos anda em círculos toda vez que está com pressa. Rodado no centro de Porto Alegre, uma das cenas mostra a mulher andando em círculos em frente à prefeitura municipal.

Tal situação é, no mínimo, tendenciosa. Por causa disso, o atual prefeito de Porto Alegre (RS), José Fogaça, que concorre à reeleição, encaminhou uma reclamação formal ao TSE pedindo que o filme fosse proibido. O TSE estuda como retirar a peça do ar somente em Porto Alegre.

Por fim, o único comercial coerente de toda a campanha chama-se "Emoções". Nele, um homem chora toda vez que ouve a música do seu celular. Mesmo depois de quatro anos vertendo lágrimas de esguicho, ele segue no mesmo drama. Faz sentido, ele fez uma escolha ruim e ficou atrelada a mesma durante quatro anos.

A verdade é que os comerciais têm um erro básico de conceito. Os atores dos filmes são vítimas de acidentes ou de problemas neurológicos. Se as coisas não vão bem, não foi por que os pobres coitados tomaram uma decisão sem pensar. Eles não precisam do TSE, mas sim do HPS...

A campanha precisa, na verdade, ressaltar o fato de que é o eleitor é quem escolhe seus representantes. E pode pagar caro pelo erro. Enfim, apesar do que apregoam os comerciais do TSE, o voto não é uma doença!

Da Equipe de Articulistas

Detalhe 1: o comercial "Círculos" lembra um filmes do Nokia estrela por um tal de Wilson, que só andava para trás.

Detalhe 2: Os comerciais do TSE realmente atingem seu objetivo, apesar da boa produção? Os filmes são nitidamente voltados para o público jovem. Serão eles a parcela mais representativa da falta de consciência na hora de votar?

TSE - Círculos

TSE - Abelha

TSE - Sapateado

TSE - Emoções