Dogma:A TFP tem toda a razão

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O cinema foi feito para vender pipocas. (Kevin Smith)

Sempre desconfie de um filme que já inicia pedindo desculpas. Se ainda é cedo para afirmar qual será o melhor filme do ano 2000, quanto ao pior não há dúvidas: Dogma é o grande vencedor. É praticamente impossível que alguém venha a produzir uma bobagem cinematográfica deste calibre.

O diretor, Kevin Smith, dos duvidosos Procura-se Amy e Barrados no Shopping resolveu fazer um filme religioso. É isso mesmo. Não há nenhuma crítica implacável ou uma demolição da doutrina católica (até por que depois de A Vida de Brian isso seria totalmente desnecessário). Dogma é, na verdade, uma imensa pregação. Uma visão da fé de Kevin Smith.

Em apenas 10 minutos de filme, tudo fica claro. O diretor quer nos convencer a todo custo que é uma pessoa religiosa. Mas, sinceramente, dá perceber que ele faltou a inúmeras aulas de catequese. O pior de Dogma é que cada personagem que entra em cena tem de fazer um enorme discurso sobre a fé. Ora, se o espectador deseja mesmo assistir duas horas de pregação ininterrupta era muito mais fácil (e mais barato) ir em uma Igreja Evangélica qualquer.

Assim, em Dogma parece que cada um quer provar que a sua fé é melhor que a do outro, além de tentar esclarecer o incauto espectador sobre cada ponto obscuro da Bíblia. No início, um sentimento cristão de piedade é capaz de tornar o filme suportável, mas da metade para o final o caos reina por completo e não tem água benta que dê jeito.

A história de Dogma começa quando dois anjos caídos Loki (Matt Damon) e Bartleby (Ben Affleck), condenados a passar a eternidade vagando por Winsconsin provavelmente assistindo os outros filmes de Kevin Smith sem cessar, resolvem voltar para o céu. A dupla celestial encontra uma brecha quando uma Igreja Católica progressista resolve fazer um dia do perdão. Como uma decisão da Igreja é uma decisão de Deus, eles poderiam voltar para o paraíso. Entretanto, se fizessem isso provariam que Deus estava errado condenando eles ao exílio. Como Deus não erra, exceto quando deixou Kevin Smith se tornar diretor, o universo entraria em contradição e o mundo acabaria.

A esperança da Terra chama-se, Bethany (Linda Fiorentino, nitidamente constrangida no papel), a última descendente da Virgem Maria, que trabalha numa clínica de abortos e está atravessando uma crise de fé.

Como uma salvadora só não faz verão entram em campo os profetas Jay (Jason Mewes) e Silent Bob (o próprio Kevin Smith). Aliás, estes personagens já haviam aparecido em outros filmes do diretor. Smith com uma grande cara-de-pau e um narcisismo mefistofélico se coloca como herói da história. Vaidade, tudo é vaidade, como já diria São Francisco...

Daí para frente o filme é um desfile de personagens bizarros e diálogos insossos. Como não poderia deixar Salma Hayek, a deusa dos filmes ruins, está no elenco fazendo o papel de "Musa Inspiradora" e praticamente repetindo a sua cena de Um Drink no Inferno. Como se isso não fosse suficiente, ainda existe um 13º apóstolo (o chatíssimo Chris Rock) que alega ter ficado de fora da Bíblia por ser negro.

É preciso fazer justiça a Kevin Smith em um ponto. Uma das melhores coisas de Dogma foi a escolha da cantora Alanis Morisette para interpretar o papel de Deus. Morisette entra muda e sai calada, a não ser quando resolve falar com a sua insuportável voz de gralha habitual. O som saído da sua boca é tão ruim que um personagem morre... Díficil encontrar metáfora mais perfeita.

Enfim, Dogma é um filme canhestro sem qualquer capacidade de provocar alguma polêmica. A única coisa que ele consegue provocar é bocejos. Muitas pessoas estavam preocupadas que hordas de fanáticos da TFP (Tradição-Família-Propriedade) tentariam censurar o filme ou impedir o acesso de espectadores ao cinema, mas nada disso aconteceu. Aliás, depois de assistir a Dogma é fácil dar razão a TFP. Acreditem, censurar um filme tão ruim quanto Dogma não é nenhum pecado.

J. Tavares

Dogma, EUA, 1999 Direção: Kevin Smith. Elenco: Linda Fiorentino, Jason Mewes, Kevin Smith, Salma Hayek, Chris Rock e Alanis Morisette.

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