Inteligência Artificial

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Poucas vezes o título de um filme foi tão feliz. Inteligência artificial é exatamente o que existe no último trabalho de Steven Spielberg. O roteiro do filme é baseado no conto Superbrinquedos Duram o Verão Todo, de Brian Aldiss, que Stanley Kubrick tentava adaptar para a tela grande desde 1980. Quer dizer se Kubrick não conseguiu obter um resultado razoável em 20 anos, o que dirá Spielberg em pouco mais de duas horas.

Mesmo assim, a família de Stanley Kubrick , quando o diretor morreu em 1999, procurou Spielberg e lhe entregou anotações e mais de 1000 esboços deixados pelo falecido. A partir daí o pai do Indiana Jones resolveu abraçar a causa. E acabou metendo os pés pelas mãos. A tentativa de emular o estilo de Kubrick acabou resultando em um filme constrangedor.

No futuro os homens serão capazes de contruir mecadróides, robôs perfeitamente iguais aos humanos. O mundo acaba se dividindo entre os meca (seres mecânicos) os orga (seres orgânicos). A Cybertronics Manufacturing é uma das maiores produtoras tecnológicas do mundo. O Professor Hobby (William Hurt) tem uma daquelas idéias de cientista maluco para ajudar a empresa a crescer. Por que não construir um ser mecânico capaz de se emocionar?

O primeiro protótipo da evolução dos meca chama-se David (Haley Joel Osment). Ele tem 11 anos. E foi programado para ser o filho perfeito. Tudo o que ele quer é ser amado. Depois de vários testes a Cybertronics utiliza um casal para comprovar a eficácia do seu novo produto. Henry Swinton (Sam Robards) funcionário da empresa e sua esposa Monica Swinton (Frances O'connor) tem um filho com uma doença incurável que foi criogenado até que apareça uma cura. Logo David pode ser uma espécie de filho substituto.

David, com o tempo, acaba conquistando o amor de sua nova família. Tudo vai bem até que o filho do casal Martin Swinton (Jake Thomas) consegue uma cura para a sua doença. Ao voltar para casa, descobre que tem um novo irmão para infernizar. A situação rapidamente se complica entre os dois e, em uma festa, David quase mata acidentalmente Martin.

A família decide devolver David para a fábrica. Mas a nova mãe de David, Monica, acaba por sentir pena de abandonar uma criança robô. Então o deixa na floresta junto com Teddy Bear, um urso de pelúcia falante, que é uma espécie de brinquedo de última geração. David se lembra da história de Pinóquio onde a fada azul transformava o boneco de madeira em gente. Querendo se transformar em um humano para ficar velho, egoísta, ranzinza e cheio de doenças e perebas, o mini-robô começa a sua aventura atrás de seu sonho. Como companheiro de viagem David vai contar com a ajuda de Gigolo Joe (Jude Law, de longe a melhor atuação no filme), um robô especializado em atender os desejos das mulheres.

A jornada de David vai ficando cada vez mais estapafúrdia. Spielberg, nos melhores momentos do filme, parece um imitador esforçado de Kubrick. O problema é que o diretor de Tubarão não consegue soar adulto e o filme resvala para um tom infantil que não tem a menor justificativa dentro da história. A trama parece andar em círculos e o final é nitidamente espichado para dar uma mensagem de esperança.

Inteligência Artificial acaba sendo um filme ruminante. A gente mastiga, mastiga, mas não consegue engolir. Assim como o dedo de Kubrick pode ser claramente visto no ambientes assépticos do casal do filme, provavelmente muito da leveza de Inteligência Artificial se deve ao toque inconfundível de Steven Spielberg. Só que isto não é suficiente para garantir um bom espetáculo. O melhor a fazer era engavetar o projeto por mais 20 anos ou esperar algum milagre da fada azul.

J. Tavares

(A.I. - Artificial Intelligence, EUA, 2001), Direção: Steven Spielberg, Elenco: Haley Joel Osment, Jude Law, Frances O'connor, Sam Robards, William Hurt, Jake Thomas, Brendan Gleeson, Duração: 135 min.

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