Kurt e Courtney

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À primeira vista um documentário feito por um britânico sobre a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana, não parece algo muito promissor. Mas o diretor Nick Broomfield, sem muitos recursos e indo contra a vontade de muita gente, conseguiu fazer um filme não só interessante como altamente recomendável. Nick consegue colocar o dedo na ferida como poucos. Partindo de hipóteses levantadas no livro Who Killed Kurt?— escrito pelo pai de Courtney Love—. Nick não conclui, mas deixa boas dúvidas, principalmente, no que diz respeito da participação de Courtney no suposto suicídio de Kurt. Até o pai de Courtney acredita que ela armou alguma na morte do marido.

O documentário vasculha o passado de Kurt pelo underground de Seattle, recheado de losers e junkies— a maioria dos entrevistados está sob efeito de algum tipo de droga— e mal conseguem articular uma frase. O quê às vezes deixa os depoimentos ainda mais contundentes ou involuntariamente engraçados.

Um dos pontos altos do documentário é quando Nick se encontra com El Duce, um homem que alegava que Courtney tinha lhe oferecido 50 mil dólares para matar Kurt. Para terem uma idéia do nível da coisa, o encontro entre os dois foi acertado pelo o cafetão de Divine Brown, aquela que foi pega com a boca na botija do ator Hugh Grant. Gente finíssima. El Duce era líder de uma banda de punk trash total chamada The Mentors, só o vídeo de uma das músicas da banda já vale a locação. Apesar de não parecer, em qualquer aspecto, uma figura digna de confiança El Duce diz com todas as palavras que sabe quem matou Kurt, mas acaba não revelando o assassino. Uma semana depois El Duce aparece morto, atropelado por um trem! Será que alguém dúvida que ele foi assassinado?

Não vá esperando por uma trilha sonora cheia de músicas do Nirvana. Miss Courtney Love, que com a morte de Kurt herdou os direitos de execução de todas as canções de Kurt, não permitiu o uso de nenhuma música da banda. Inclusive, Nick passa boa parte do documentário tentando entrevistar Courtney sem ser bem-sucedido.

A confrontação final entre Nick e Courtney, ironicamente, se dá numa cerimônia da ACLU, uma instituição americana que luta pelo direito de liberdade de imprensa e expressão. Courtney era a homenageada da noite e após seu discurso, Nick sob ao palco para confrontar a ACLU por prestar homenagens a alguém, que não só tinha um longo histórico de ameaças a jornalistas— o documentário apresenta fitas de ligações telefônicas de Courtney ameaçando de morte uma jornalista que estava escrevendo uma biografia de Kurt— como vinha criando vários empecilhos para que Nick pudesse terminar seu documentário. Um momento absolutamente surreal se não fosse verdadeiro.

No final percebe-se que o grande personagem desse documentário não é Kurt, mas sim Courtney. Se hoje em dia  Courtney tenta de todas as maneiras esconder seu passado levando uma vida glamourosa com seus novos amigos de Hollywood. É nesse documentário que está sua verdadeira face, mas não é caso de ver para crer: tá na cara...

Saulo Gomes

(Kurt and Courtney, EUA, 1998) Direção: Nick Broomfield 100 min.

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