Sal de Prata

O cineasta Carlos Gerbase podia ser acusado de tudo menos de ser pretensioso. O diretor gaúcho sempre procurou fazer filmes para o público ver. Seu trabalho anteior, Tolerância, não faria feio em nenhum cine privê da vida. Porém, em Sal de Prata, ele decidiu abandonar a receita vencedora (15 minutos de trama + cena de sexo gratuito) para investir em um exercício de metalinguagem afetado e pernóstico.

O roteiro teve 14 versões diferentes. Mesmo assim, é uma das piores coisas já feitas em território nacional. É como tentar emular Bergman e Antonioni (o que não deixa de ser uma idéia anacrônica) com sotaque gaúcho. Pior ainda, apesar de ter Maria Fernanda e Camila Pitanga no elenco, Sal de Prata sequer tem uma cena de nudez. No caso dos filmes de Gerbase, isto é um pecado mortal.

A trama começa quando Cátia (Maria Fernanda) uma economista de sucesso decide dar um fim no seu namoro com Rudi Veronese (Marcos Breda), um cineasta fracassado. Porém, Rudi tem ataque do coração no meio de uma patética discussão sobre cinema e morre...

A cena mostra um bando de cineastas gaúchos discutindo sobre a importância do sal de prata, que é uma substância química usada para deixar a película (na qual filmes são rodados) sensível à luz. Porém, com o avanço das tecnologias digitais, esse tipo de produção está cada vez mais ameaçada de extinção. A idéia seria debater as nova tecnologia em comparação com o cinema tradicional. Bem, isto é o tipo de coisa que só interessa aos alunos de uma faculdade de cinema. O resto da humanidade pode passar batido.

Depois que Rudi morre, Cátia descobre em seu computador uma série de roteiros que vão despertar a cobiça de amigos cineastas do falecido. Entre eles está Vado (Bruno Garcia). O sujeito nem espera o falecido ser enterrado para dar em cima da economista. Além disso, ela começa a suspeitar que o ex-namorado poderia ter tido um caso com a estrela de seus curtas, Cassandra (Camila Pitanga).

Como nenhum dos amigos de Rudi consegue transformar os roteiros em realidade, Cátia decide entrar para o fascinante mundo do cinema. Sem qualquer experiência no assunto - ela sequer sabe segurar uma claquete - se sai melhor que todo os cineastas gaúchos. Em defesa de Gerbase, é preciso admitir que a idéia é realmente plausível.

Além do roteiro, Sal de Prata tem outro problema realmente grave. A direção de atores é simplesmente péssima. Maria Fernanda é tão expressiva quanto um manual de instruções de uma torradeira elétrica. Marcos Breda parece atuar hipnotizado. Camila Pitanga se esforça um pouco mais, porém qualquer atriz que tenha problemas em fazer cenas de nudez não pode ser levada a sério.

Enfim, Sal de Prata parece que foi feito para ser exibido em sala de aula para os alunos da turma de cinema de Carlos Gerbase. Ele provavelmente vai exibir o filme na aula inicial e explicar: "viram, é assim que NÃO se faz cinema". Enfim, o único mérito de Sal de Prata é levar às seguintes conclusões sobre o cinema gaúcho:

1) Cineasta gaúcho é corno manso por natureza
2) Até mesmo uma economista pode fazer cinema melhor do que os cineastas gaúchos
3) Os cineastas gaúchos costumam usar a verba dos filmes para pagarem suas contas
4) Se o filme é ruim, o diretor é incompetente e o roteiro não presta, o melhor a fazer é contratar um montador decente.

J. Tavares

(Sal de Prata, BRA, 2005), Direção: Carlos Gerbase, Elenco: Maria Fernanda Cândido, Camila Pitanga, Marcos Breda, Bruno Garcia, Júlio Andrade, Janaína Kremer, Júlia Barth, Nélson Diniz, Rafael Tombini, Mateus Dagostin, Felipe de Paula, Roberto Birindelli, Bruno Torres, Rodrigo Najar, Adriana Scherer, Maitê Proença, Leonardo Machado, Analise Lopes, Duração: 100 min.

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