Tiros em Columbine

A questão é simples: se você é jornalista e não assistiu a Tiros em Columbine então não é jornalista. O cineasta Michael Moore fez, ainda que sem querer, um verdadeiro inventário de todos os erros e acertos da profissão. Se as faculdades de comunicação no Brasil fossem sérias estariam discutindo até hoje o vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2003.

O filme de Michael Moore faz uma pergunta fundamental. Por que os Estados Unidos são tão violentos? E, a partir daí, passa a demolir cada uma das hipóteses mais aceitas pelo senso comum. Nada de histórico belicista, nada de por a culpa videogames ou bandas de rock. O buraco (de bala) é mais embaixo.

Moore usa de um humor ora inteligente, ora agressivo para mostrar uma realidade assustadora. As imagens das fitas gravadas pelas câmeras de segurança da cantina na manhã do massacre na Columbine High School são impressionantes. Porém como o inimigo público número 1 de George Bush é gente que faz, chega a invadir da sede da grande rede de lojas que vendeu as balas para os assassinos de Columbine.

Contudo, o momento mais comentado do filme é a entrevista com Charlton Heston. O ator de Ben-Hur é um dos líderes da Associação Nacional do Rifle (NRA). O já raquítico e senil ídolo de Hollywood é patrolado por Moore com uma série de perguntas desconcertantes.

O fato é que com seu jeito de gordo desleixado Michael Moore parece ser um representante do homem comum americano em busca de respostas. Claro que hoje, Moore deve ser o único esquerdista a ficar rico nos Estados Unidos. De qualquer maneira, Tiros em Columbine peca por ser excessivamente piegas e manipulador. Sim, várias cenas foram forjadas por Moore. Principalmente a entrega do rifle no banco.

Tiros em Columbine se não é tão bom quanto aparenta, pelo menos permitiu o discurso mais divertido da cerimônia do Oscar em muito tempo. Agora, se Moore quiser ver o que é violência de verdade basta se mudar para o Rio de Janeiro e filmar algo como Tiros em Copacabana...

J. Tavares

(Bowling For Columbine, EUA/ALE/CAN, 2002), Direção: Michael Moore, Elenco: Michael Moore, Denise Ames, Charlton Heston, Marilyn Manson, Matt Stone, Barry Galsser, John Nichols, Duração: 121 min.

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