Carlinhos Brown - o injustiçado

Infelizmente já em minha estréia nesta revista tenho de me deparar com um tenebroso erro de avaliação. A ZeroZen me contratou para ser uma consciência viva da revista, uma espécie de grilo falante muito bem-remunerado. Pois bem, sou obrigado inicialmente a contestar dois textos nos quais a ética pela qual deve pautar o bom jornalismo foi esquecida. A mesma seriedade, isenção, credibilidade que norteiam, por exemplo, o Jornal Nacional, deveriam ter sido utilizadas pelos editores da revista.

Estou me referindo aos textos da seção ZZ-Files que afirmavam ser o fantástico, único, sensacional artista brasileiro Carlinhos Brown, um tremendo pé-frio. Ora, é claro que ambos os artigos não são críveis. Vivemos em um mundo racional, chegamos ao glorioso Século 21. Logo, a idéia de que alguém pode atrair azar deve ser descartada de plano.

Mesmo assim, o inestimável, o lírico, o inimitável Carlinhos Brown leu aquele arremedo patético de piada e sentiu-se ofendido. Com o quê? Afinal, nada do descrito ali é verdade. Portanto, é meu dever como ombundasman atentar para o fato de que o esplendoroso artista brasileiro possa ser superticioso. Assim, qualquer jornalista mais ético teria ligado para Brown e perguntado se poderia fazer uma piada sobre a suas supostas superstições.

Pronto. Tudo estaria esclarecido. Não seria preciso a ação dos diligentes representantes legais de Carlinhos Brown que proibiram a divulgação dos textos sob pena de fulminar essa revista com um processo massacrante. Poderia alguém mais desavisado crer que isto se trata de uma espécie grotesca de censura. Nada disso. É apenas o exercício de um direito legal. Ë dever de quem se sente ofendido recorrer aos préstimos da Justiça, que, todos sabemos, é cega e não deve acessar a Internet. Mas o ponto fulcral neste incidente é que o jornalismo não deve chatear as pessoas. Devemos escrever textos lindos e cheios de conteúdo simpático para todos os artistas. Afinal os artistas, são isto mesmo: artistas.

O patrimônio público da nação brasileira, o músico Carlinhos Brown é um sucesso no exterior. Só por este detalhe não devíamos criticá-lo em sua própria terra. Brown, aliás, em minha humilde opinião é o maior músico de todos os tempos, capaz de fazer Mozart cometer o suicídio ou de Beethoven ficar surdo tamanha a vibração dos tambores da Timbalada. Então por que tanta agressividade?

A ZeroZen agiu corretamente ao tirar os textos do ar. Basta pensar que milhares e milhares de pessoas poderiam seguir aqueles textos como um mantra. Professores poderiam repetir aquelas palavras em salas de aula para desavisados alunos. Talvez, com o tempo o governo mudasse a letra do Hino Nacional só para avisar que Carlinhos Brown é um pé-frio. Para evitar que uma tragédia de proporções bíblicas como esta aconteça é que eu fui contratado para ensinar como se faz um jornalismo ético e responsável a esta impoluta revista. Sejam felizes, pois este é o melhor dos mundos possíveis.

H. Pangloss