Barbie

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A Barbie não é uma personagem. É uma boneca. Por que fazer um filme sobre uma boneca? Essa premissa já seria um problema, se coisas como roteiro, enredo, ou mesmo bom senso fossem levadas a sério em Hollywood, hoje em dia. Mas o live-action aposta em uma série de auto-referências e na mitologia (sic e sci-fi) da Barbie para produzir um espetáculo de constrangimento embalado em glitter.

Na verdade, essa era a ideia de um brinquedo como Barbie, criar suas próprias histórias. Coisa de guriazinha. Ausente de personalidade, vazia de idéias e conteúdo. Isso era Barbie. Ou seja, coisa de guriazinha. Aliás, o filme aproveita para mostrar o portfólio da Mattel, inclusive com as versões mais bizarras da Barbie. Pelo menos o filme sabe rir de si mesmo.

Barbie o filme, é coisa de e para americanos. Parem de usar “estadunidenses”! Use americasno. Se for preciso. Mas parem de usar estadunidenses. É um tipo de filme do qual não se espera muito e é exatamente isso mesmo que você recebe. Em outras palavras, americasno da gema.

A trama começa na terra das Barbies. Sim, existe algo chamado Barbieland. Basicamente, é o mundo mágico das Barbies, onde todas as versões da boneca vivem em completa harmonia. Existem boas piadas visuais. Mas todas elas foram entregues nos trailers.

As únicas preocupações das bonecas são encontrar as melhores roupas para passear com as amigas e curtir intermináveis festas. Porém, uma das bonecas (Margot Robbie) começa a perceber que talvez sua vida não seja tão perfeita assim. Seria a crise dos quarenta anos? Na verdade, a Barbie foi lançada oficialmente em março de 1959 na Feira do Brinquedo de Nova York. Ou seja, ela tem 64 anos. Já está a um passo de ser senil.

De qualquer forma, a Barbie "estereotipada" passa a se questionar sobre o sentido de sua existência. Isso, claro, deixa todas as suas companheiras preocupadas. Rapidamente, a sua vida cor-de-rosa começa a mudar. Então em uma explicação sem pé nem cabeça, proporcionada pela Barbie esquisita (Kate McKinnon), ela descobre que precisa ir até o mundo real para resolver esse problema.

Mas ela não vai sozinha. Como sempre está acompanhada de seu fiel e amado Ken (Ryan Gosling). Só que o mundo real acaba sendo muito mais interessante para Ken. Ele começa a perceber que esse tal de girl power só funciona mesmo é na Barbieland. Já Barbie percebe que ser mulher não é necessariamente a coisa mais fácil do mundo.

Verdade seja dita, o filme desde o começo abraça o ridículo. Então, isso ajuda a suportar os momentos mais constrangedores. Mas fica o aviso: esse não é um filme para guriazinhas. É para quem há 20 ou 30 anos brincou de Barbie. As piadas são adultas demais. Por exemplo, em um determinado momento, uma personagem afirma que a estética da Barbie levou as mulheres a procurarem um corpo impossível de ser obtido. Sim, a boneca é parte do problema e não da solução. Aparentemente, ninguém da Mattel leu o roteiro.

Pelo menos em dois terços do filme, existe o benefício da dúvida. Mas no terço final as coisas vão de mal a pior para a Barbie. O humor irônico é substituído por discursos vazios. Ken vira um representante do patriarcado opressor. Ele conquista a Barbieland.

O filme se torna meio sério, meio purpurina. As questões abordadas são relevantes? Sim. Mas não se encaixam no mundo criado. Barbie consegue fazer críticas bem mais inteligentes sem precisar adotar um modelo "palestrinha". É um momento educativo, didático e tremendamente chato...

Barbie acredita que o discurso feminista vai salvar o mundo. O problema é que a revolta dos Kens surge justamente pelo modelo injusto que o roteiro tenta combater. E, como sempre, a boneca é mais parte do problema do que efetivamente da solução. Trocar um tipo de fascismo por outro fascismo não resolve nada.

Nem tudo é um desastre em Barbie, a piada da narradora sobre a beleza de Margot Robbie funciona. A piada final também se salva. De resto, Barbie é um erro, mas é um equívoco que sabe rir de si mesmo. Curiosamente, os melhores personagens são Ken (Ryan Gosling) e Alan (Michael Cera). E isso certamente parece uma derrota para um filme feito para ressaltar a força das mulheres.

J. Tavares

Direção: Greta Gerwig, Roteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach, Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Michael Cera, Simu Liu, Kingsley Ben-Adir, Issa Rae, Emma Mackey, Hari Nef, Will Ferrell, Kate McKinnon, Dua Lipa, Nicola Coughlan, Helen Mirren, Alexandra Shipp, Ritu Arya, Ncuti Gatwa, Emerald Fennell, John Cena, Sharon Rooney, Ana Cruz Kayne, Rhea Perlman, Duração: 114 min.

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