A Baleia

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A Baleia é um filme de peso. Pronto. A ZeroZen fez a piada que todo mundo estava com medo de fazer. Mas a questão é se a obra dirigida Darren Aronofsky vale a pena, cinematograficamente falando. Mesmo com a sólida interpretação de Brendan Fraser (possivelmente a única de toda a sua carreira), o filme pode ser resumido como uma novela mexicana cheia de colesterol ruim.

Afinal de contas, a inspiração de A Baleia é direta. Basicamente, segue os passos de Despedida em Las Vegas, estrelado por Nicolas Cage. Mas se o personagem de Cage tenta se matar bebendo além da conta, em A Baleia o personagem principal come sem parar até as últimas consequências. Ou seja, é como se fosse Despedida em Las Vegas movida a carboidratos e bacon...

A Baleia conta a história de Charlie (Brendan Fraser), professor de escrita criativa de um curso online. Ardilosamente, ele sempre mantém sua webcam desligada (no caso, o mais fácil seria comprar uma grande angular). Ele acredita que sua aparência iria ser vista como repugnante por seus alunos. Atualmente, Charlie pesa mais de 270 quilos. Mal consegue sair de sua poltrona sem a ajuda de sua amiga e enfermeira Liz (Hong Chau).

Para piorar a situação, sua pressão arterial atinge níveis letais e ele também sofre de insuficiência cardíaca congestiva. Apesar dos constantes apelos de Liz, ele se nega a ir ao hospital alegando não ter plano de saúde. Com uma premissa dessas fica claro que o personagem não vai muito longe.

Nos seus últimos dias, ele conhece o missionário Thomas (Ty Simpkins). Um garoto que - embora mostre boa-vontade - vai revelando uma história mais sombria. Porém, a missão mais importante para Charlie é tentar se conectar com sua filha, Ellie (Sadie Sink), que abandonou quando ela tinha oito anos de idade. Ainda há tempo para um breve reencontro com a ex-esposa Mary (Samantha Morton).

Charlie deixou a família para viver com o namorado. O problema é que o rapaz cometeu suicídio. Isso fez com que Charlie afogasse as mágoas na comida, resultando em uma obesidade mórbida. Já deu para perceber que A Baleia é um filme triste, reforçado pela claustrofobia, e, como se não fosse suficiente à fotografia escura e sem vida. A ideia é mostrar um ambiente sujo e decadente. Ou seja, a trama poderia se passar no quarto de qualquer adolescente.

Muitas pessoas criticaram Brendan Fraser por interpretar o papel de um gordo. Em tese, o filme ficaria mais autêntico com um ator que estivesse com obesidade mórbida. Isso é de uma estultice atroz. Então, quem interpreta um traficante de drogas precisa ser um viciado? Quem interpreta um médico precisa fazer faculdade de medicina? Ou quem interpreta um jogador de futebol precisa perder metade do cérebro?

Por fim, a última pergunta que resta é: A Baleia é gordofóbico? Não, de jeito nenhum. Ninguém tem medo de Charlie. Aliás, ele passa o tempo inteiro pedindo desculpas. O filme insiste em provocar asco, nojo na figura do professor obeso. Mas o melodrama é raso, sem inspiração, que não consegue se livrar da sensação de ser uma peça de teatro filmada. A ironia é que mesmo sendo um filme sobre obesidade, o roteiro de A Baleia não tem gordura para queimar...

J. Tavares

(The Whale, EUA, 2022), Direção: Darren Aronofsky, Roteiro: Samuel D. Hunter. Elenco: Brendan Fraser, Hong Chau, Sadie Sink, Ty Simpkins, Sathya Sridharan e Samantha Morton, Duração: 117 min.

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