Chutando Cachorro morto: The New Day


Em fevereiro de 2016, os londrinos foram surpreendidos com o lançamento de um jornal impresso. Sim, em plena era da Internet alguém resolveu bancar essa ideia. O The New Day era o primeiro jornal de tiragem nacional lançado no Reino Unido em 30 anos.

Mesmo com todos os indicadores mostrando que essa era, para dizer o mínimo, uma ação arriscada, os proprietários estavam convencidos da viabilidade do papel na era da internet. O The New Day tinha a ousada meta de vender 200.000 exemplares diários, mas estacionou em 40.000. Um número muito abaixo das expectativas. Resultado? O jornal fechou apenas 10 semanas depois de chegar às bancas...

A Trinity Mirror, companhia responsável pelo Daily Mirror e dezenas de publicações nacionais e regionais, pretendia mostrar que a digitalização da informação não era algo irreversível. O “the New Day” (tND) era um diário de quarenta páginas em média, com matérias concisas e um espírito otimista que pretendia atrair leitores, sobretudo mulheres.

O preço adotado pelo The New Day foi 50 pences (0.64 euros). Mas a curiosidade maior é fato de que - em pleno 2016 - o jornal não tinha um site. Sério? Ninguém olhou pro calendário e percebeu que o mundo não estava mais em 1950? Ele, verdade seja dita, marcou presença no Facebook e Twitter. Porém, não havia publicação de matérias, somente interação com leitores. Mas se não havia artigos, os leitores iam interagir com o que?

A editora Alison Phillips afirmou que a tentativa de se fazer um jornal impresso é válida. Pois desistir desse tipo de jornalismo seria como “ver e aceitar o declínio da imprensa britânica”. Inclusive, Alison na despedida do jornal enviou uma mensagem à redação. “O jornal atraiu muitas pessoas interessadas de verdade na ideia de um tipo de jornal diferente. Mas a realidade é que não tínhamos suficientes leitores diários”, destacou. Aliás, essa é a primeira pergunta que todas essas pessoas que investiram nessa canoa furada deveria ter feito: "quem diabos lê jornal impresso nos dias de hoje?".

Mas a Trinity Mirror garante que fez o trabalho de casa. “Pesquisamos muito para chegar à conclusão de que nem tudo é por causa do digital. As pessoas que não se apaixonaram pelos jornais simplesmente não gostam daquilo que se encontra nas bancas. Elas ficaram insatisfeitas com produtos que não se transformaram ou se adaptaram, mas talvez fiquem tentadas de ler algo que se apresente de maneira diferente. Criamos um produto que se adapta à sociedade moderna, e dá algo que é esperado de um jornal”, explicou Elizabeth Holloway, porta-voz do Trinity Mirror.

Mesmo em 2016, o modelo comercial era baseado em assinaturas. Ou seja, só daria certo com uma alta circulação. O jornal tinha publicidade, claro, mas não era suficiente para pagar as despesas. Inclusive, o pessoal que estuda jornalismo deveria começar a perceber que esse modelo de negócio está falido.

Aliás, o mais incrível é que, se você estivesse em uma faculdade de Comunicação, seu professor de jornalismo impresso deve ter usado o The New Day como exemplo da pujança dos jornais. Deve ter gritado a plenos pulmões que os bons tempos voltaram, que o verdadeiro jornalismo ressurgiu e que as pessoas estavam sentindo falta de ler jornais de papel...

Bem, não importa a faculdade que você cursa, o professor de jornalismo impresso é um senhor de idade. Tem cabelos brancos, usa uma camisa surrada, não faz a barba e provavelmente não toma banho há uns 10 anos. Está a um passo da aposentadoria ou da senilidade, o que vier primeiro. Então, nada do que ele disser deve ser levado a sério.

Por fim, Trinity Mirror declarou antes do lançamento que tinha certeza que os jornais impressos ainda eram relevantes. “Esperamos provar que jornais impressos são capazes de sobreviver ao lado de noticiários digitais e as mídias sociais. A fórmula de dar aos leitores o que eles precisam, compartilhando opiniões e sem dizer a eles o que pensar, fugindo da linguagem típica dos tabloides, deve agradar”, a porta-voz destacou Elizabeth Holloway.

Bem, lançar um jornal impresso em 2016 foi algo tão relevante e importante que ganhou espaço na ZeroZen na nossa seção Chutando Cachorro Morto. Parabéns pela conquista...

Da Equipe Articulistas