Não Prenda Minha, prenda ele!

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Qualquer pessoa com um mínimo de preparo sabe que não se pode esperar muita coisa de um show de Caetano Veloso. Normalmente as coisas só funcionam quando o baiano esquece a idéia fixa de se tornar um guru da MPB e simplesmente resolve cantar. Não é o caso do malfadado show Prenda Minha que lotou os teatro do Sesi nos dias 1º e 2 de outubro.

Caetano Veloso está mais falante – e chato – do que nunca. Verdade seja dita, apesar de comprovar o falecimento musical do ex-tropicalista, o cd Prenda Minha vendeu tudo e mais um pouco, chegando a glória máxima de ter uma música (a horrorosa Sozinho, do Peninha) incluída na trilha da novela das oito.

A impressão que se tinha era de que o público do show de Caetano Veloso jamais tinha ouvido qualquer Caetano Veloso. Somente assim se justificariam aplausos tão exagerados. Era possível contar nos dedos quem tinha escutado, por exemplo, Transa (1972) um dos melhores discos de Veloso. Bastava olhar para o lado e reparar nas caras de asco.

O repertório do espetáculo é muito irregular e até mesmo as versões ao vivo de grandes sucessos como Terra, Eclipse Oculto e Jorge da Capadócia (que é do tempo em que o Jorge Benjor se chamava Jorge Ben) acabaram ficando inferiores a versão de estúdio graças a arranjos pretensiosos e sonolentos. Entretanto, nada disso parecia incomodar o público presente ao Teatro Sesi que insistia em aplaudir até mesmos os discursos de Caetano Veloso, o que, é lógico, provocava novos discursos.

Aliás, não se pode culpar Caetano por ter um chilique atrás do outro. Ele, como todo bom músico que se preze, sabe que está acabado. Deve ser duro olhar para o lado e ver o Chico Buarque alcançar o auge como poeta, compositor e cantor. Tudo o que resta é se popularizar ao máximo para garantir uns trocados para a velhice.

Infelizmente, quem foi ao Teatro do Sesi procurando um grande show de Caetano Veloso chegou oito anos atrasado. Veloso fez em 91 o disco e a turnê de Circuladô ao Vivo, que talvez tenha sido seu último disco aceitável. E o melhor de tudo: nesse disco e nesse espetáculo não havia a dispensável e deprimente versão do clássico do cancioneiro gaúcho, Prenda Minha.

J. Tavares

Em tempo: o maior mico musical da MPB dos últimos tempos aconteceu quando um desses gênios do marketing resolveu reunir para a inauguração de uma casa noturna Caetano Veloso e João Gilberto. Não satisfeito ele ainda resolveu distribuir convites para a nata da altíssima burguesia. Imagem toda aquela maravilhosa cultura de salão de cabeleireiro contra dois dos maiores malas da música brasileira. Deu no que deu: ataques de estrelismo e vaias para todos os lados. Agora, honestamente, reunir em um só show Caetano e João Gilberto e não querer nenhuma vaia é demais...