Eric Clapton - Estádio do Olímpico 10/10/2001


Nunca mais para o Terceiro Mundo

O show do guitarrista inglês Eric Clapton nesta quarta-feira na capital gaúcha foi essencialmente frio e profissional. Por duas horas Clapton desfilou um repertório equivocado e sem grandes surpresas. Ao que parece Clapton já deu baixa dos papeis da aposentadoria no INSS do rock e está tocando apenas para cumprir tabela. Se for o caso esse espetáculo não poderia ter sido mais sintomático.

Coube a Frejat abrir o show, com uma apresentação curta( ainda bem) recheada de covers (Ângela Rô-Rô, Cazuza, Bezerra da Silva) e alguma coisa do seu disco solo. Nada que você realmente vá se lembrar alguns minutos depois.

O suposto Deus da guitarra entrou no palco poucos minutos depois das 9 horas e começou sua apresentação com a instrumental Reptile meio bossa nova, meio trilha sonora de churrascaria. Seguiu-se então um set acústico, onde em doses homeopáticas iam aparecendo algumas das suas músicas mais conhecidas, como Bell Bottom Blues, Change The World e Tears In Heaven.

Clapton só pegou a guitarra elétrica lá pela sétima música do show, o problema foi que pegou para tocar a fraquinha "My Father Eyes", e dar seqüência a um longo set de músicas dos seus últimos álbuns.

Quando finalmente Clapton se indignou a tocar um blues as coisas pareciam que iriam tomar o seu rumo. Mas uma versão constrangedora de Goin’ Down Slow ( Howlin’ Wolf ) fez suspeitar que o seu contado com João Gilberto o deixou meio enferrujado para a coisa.

A sequência final teve aquilo que o público estava esperando desde o início: Cocaine, Wonderful Tonight e Layla. E foi isso, não teve sequer I shot the sheriff que iria fazer a alegria do pessoal que vai na couve.

Clapton provou ser um homem de poucas palavras e muitos solos. E mesmo aí, apesar de competente, a coisa não foi lá muito inspirada. O bis com Sunshine of Love e Somewhere Over the Rainbow — sim aquela mesmo do "Mágico de OZ"— foi no mínimo bizarro. Mas reforça a idéia que este é na verdade um espetáculo intimista, e que possivelmente funcionaria melhor num lugar fechado do que num estádio.

Vale lembrar que em 1990, quando Clapton esteve pela primeira vez em Porto Alegre, o guitarrista chegou a voltar ao palco três vezes para o bis. Dez anos depois, Clapton voltou apenas uma vez e o público nem se indignou a pedir mais.

Diga-se de passagem este show está sendo vendido como a última turnê mundial de Clapton, mas seu afastamento dos palcos é suspeito. Talvez não mais o vejamos por essas bandas, isso é certo. Mas daí acreditar que ele abandone os palcos totalmente é meio difícil. Afinal bluesmen de verdade não tem essa história de ‘cansaço da estrada’. O que digam B.B.King e Buddy Guy... Sem contar que pelo que se viu nos palcos de Porto Alegre esse ano(Dio, Rick Wakeman, Steve Hackett) o INSS do rock não paga bem os seus beneficiários...

Saulo Gomes

P.S.: Depois da desastroza apresentação do guitarrista Yngwie"baleia"Malmstein já virou mania em shows na cidade puxar o coro: Bin Laden! Bin Laden! Bin Laden!