Rush - A Chatice como forma de arte

chato! muito chato! chato mesmo! realmente chato! é chato mesmo, sério... chato ao cubo ultra chato! mega chato! chato, chato, chato mesmo! os chatos também tocam em bandas de rock!

O Rush é chato, muito chato. Esta é primeira coisa que você precisa saber. Mas calma. Não estamos falando da música. Isto fica para depois. O fato é que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart são pessoas insuportáveis. Basta dizer que nasceram no Canadá. Mais ainda: o filho do guitarrista Alex Lifeson trabalha com música eletrônica, o que deve ser a suprema desgraça do pai roqueiro.

Provavelmente os três integrantes do Rush eram excluídos na escola e terminariam se transformando em nerds ou coisa pior se Deus, em sua infinita sabedoria, não resolvesse compensar a falta de capacidade de se relacionar com o mundo destes párias sociais. Assim, transformou Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart em excelentes músicos. Claro que não conseguiu deixar eles menos chatos. Só nascendo de novo para conseguir um milagre desta magnitude.

Mesmo assim, a população de chatos do planeta Terra é imensa, o que explica o sucesso da banda. O fato é que Rush é uma das primeiras bandas escutadas por quem se aventura no mundo do rock. Porém, para alguns acaba sendo a única. Tudo o que este tipo de gente faz é escutar a banda canadense até encher o saco do seu vizinho. Por isso depois de 30 anos de espera era lógico esperar em Porto Alegre, um Estádio Olímpico lotado para ver show da banda canadense no dia 20 de novembro.

O Rush fez um show de quase três horas com direito a intervalo. O repertório como não poderia deixar de ser foi uma espécie de coletânea da carreira do grupo, desde Working Man (1974) até Vapor Trails (2002). O espetáculo começou com Tom Sawyer, que a patuléia conhece como o tema do McGuyver. De cara já ficou nítida a competência sonora da banda.

Todos os acordes nos lugares certos. Como sempre uma precisão milimétrica. Na verdade se tem a nítida impressão de estar escutando o cd original. Aliás, já que é assim, o melhor mesmo era ficar em casa no conforto do lar incomodando os vizinhos. Enfim, esta costuma ser a crítica mais comum feita a Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart. Eles são tão exatos que não há autenticidade no seu som. Não deixa de ser uma bobagem. É como reclamar do relógio que está sempre na hora certa.

Enquanto o Rush mostrava as suas músicas para delírio do público ficou claro qual é o grande problema. A começar pela voz de Geddy Lee, a banda canadense levou a chatice à forma de arte. O repertório dos caras é o que de mais chato existe com exceção, talvez, do Dream Theater. Claro é uma chatice muito bem executada, mas mesmo assim não deixa de ser chato, muito chato.

Vale notar que a platéia estava repleta de músicos gaúchos, em sua grande maioria, bateristas. Todos na espera do momento em que Neil Peart iniciasse o seu solo The Rhythm Method. Peart aproveitou para mostrar que é mesmo um craque. Chegou a usar ritmos latinos e fechou com o clima das big bands norte-americanas. Agora, como se sabe, nada pode ser mais chato do que um solo de bateria.

Após o solo, rapidamente os músicos desapareceram. Não por coincidência os banheiros ficaram lotados. Deve ter sido o primeiro caso de onanismo musical coletivo. De uma hora para outra o gramado do Estádio Olímpico se tornou estranhamente pegajoso e grudento...

No fim das contas o público foi para casa satisfeito. A comunhão entre banda de chato com público de chatos foi perfeita. Obviamente, As músicas mais antigas do Rush tiveram a maior aprovação da platéia. O repertório de Vapor Trails foi recebido com certa frieza. Enquanto as luzes do Estádio Olímpico se apagavam apenas se podia ouvir os gritos de um fã do Dream Theater em autoflagelação ao perceber que Neil Peart era mesmo o melhor baterista do rock...

SET 1
Tom Sawyer
Distant Early Warning
New World Man
Roll the Bones
Earthshine
YYZ
The Pass
Bravado
The Big Money
The Trees
Freewill
Closer To The Heart
Natural Science

SET 2
One Little Victory
Driven
Ghost Rider
Secret Touch
Dreamline
Red Sector A
Leave That Thing Alone
The Rhythm Method
Resist
2112: Overture
2112: Temples of Syrinx
Limelight
La Villa Strangiato
Spirit of Radio

Bis
By-Tor & the Snow Dog (primeira parte)
Cygnus X-1 (três minutos iniciais)
Working Man

J. Tavares

Fotos gentilmente cedidas por André Pase

Site relacionado: www.t4e.com.br